Opinião

Puxando a máscara, sempre

A verdade é que, ao fim de três anos, já vou ficando habituado. Não pode isso é tomar-me, num só trago, de passividade e aceitação. Deixar que tal aconteça será como permitir que Joseph Goebbels, ex-ministro da propaganda nazi, possa algum dia ter razão quando, a dada altura da semeadura do inferno na terra, afirmara que "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade". Até é bom que, realmente, vá aparecendo quem goste de repetir sua máxima. Importante é não esquecê-la e nem tão pouco esquecer quem um dia a proferiu.

E importará também, por isso mesmo, não abdicar de bem fazer como a todos recomendara Cesariny - "(...) afinal o que importa é não ter medo/de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:/Gerente! Este leite está azedo!"

Destaco três. Três das falácias que, por tantas vezes repetidas, se começam a acomodar como indubitáveis verdades. Cristalizando, é a palavra, acaso nos mantivéssemos impávidos e serenos.

Avanço, então. Ergo aqui o meu braço e chamo o gerente deste estabelecimento. Gerente! É falso!

- A digitalização dos manuais escolares introduziu a sua gratuidade para as famílias açorianas?

Falso. A modalidade de empréstimo de manuais escolares tem, nos Açores, mais de uma década. Há muito que as famílias açorianas dispõem (não sei bem se não será antes "dispunham") da possibilidade de garantir os manuais escolares aos seus educandos sem que para isso se vissem obrigadas a despender desta pesada quantia do seu orçamento familiar.

- O governo regional decidiu criar uma bolsa de ilha para o recrutamento de assistentes operacionais das escolas açorianas?

Nada mais falso. O governo regional, suportado pelos partidos da coligação, tudo fez para que assim não fosse. O grupo parlamentar do partido socialista lançou a ideia de centralizar e de tornar mais célere este procedimento de recrutamento, lutou, com sucesso, para que a mesma fosse aprovada em reunião plenária da assembleia regional e, pelos vistos, terá mesmo de continuar lutando para que o governo regional se decida por elaborar a sua regulamentação, dado que sem esta tudo ficará em nada.

- O número médio de alunos por turma baixou por decisão pedagógica deste governo regional?

Também nada mais falso. Corria o ano de 2020, e fora publicitada a informação de que o número médio de alunos por turma na região autónoma dos Açores era de 15. Quinze, efetivamente. Na prática. Acontece que terá sido muito maior a preocupação de o tornar real do que, propriamente, apressa em alterar os números da "turma padrão" plasmados em Lei, o que em termos gerais se mantinha como de 20 para o pré-escolar, de 23 para o 1º, 2º e 3º ciclos de ensino e de 25 para o ensino secundário.

Pois faz-se hoje precisamente o oposto. Propagandeia-se muito a queda das médias do número de alunos por turma, correndo para uma mudança de legislação em que se mantiveram os20 para o pré-escolar, baixaram (demagogicamente porque no papel) para 18no 1º e 2º ciclos de ensino - ainda assim, abaixo da média já praticada na legislatura anterior-, mantiveram em 23 para o 3º ciclo e mantiveram em 25 para o ensino secundário. Acontece que, a prática de hoje, é ado governo regional ir obrigando a unir as turmas que as escolas propõem à tutela como sendo as indicadas por evidencias pedagógicas, e tantas vezes ignorando as profundas diferenças de nível de aprendizagem em que cada um dos alunos se encontra.

Enfim, estando eu hoje na senda das frases lapidares, não resisto a terminar com Lincoln, desejando-o, a bem da humanidade, absolutamente assertivo: "Pode-se enganar a alguns o tempo todo, e a todos por algum tempo, mas não se pode enganar a todos o tempo todo".