I
Numa Europa manifestamente a várias velocidades a frase conceptual de Albert Einstein ganha renovado sentido: "o tempo é relativo e não pode ser medido exatamente do mesmo modo e por toda a parte". Obviamente que o mais notável físico da história não se referia, no início do século passado, à construção europeia e às suas contrariedades, mas, na semana em que foram conhecidos vários relatórios importantes, a frase do cientista assume uma dimensão política inultrapassável.
Aguardado com grande expetativa, Mário Draghi entregou o seu relatório sobre "O Futuro da Competitividade Europeia". Recheado de boas intenções, o antigo Primeiro-Ministro italiano, que recentemente celebrou 77 primaveras, faz um diagnóstico severo sobre a competitividade europeia. O também antigo Presidente do Banco Central Europeu - que assumiu um papel decisivo na salvação da moeda única aquando da crise das dívidas soberanas - aponta cerca de 170 propostas para recuperar o tempo perdido para os EUA e a China e constata factos preocupantes para a economia europeia, entre eles:
- apenas 4 das 50 maiores empresas tecnológicas mundiais, são europeias;
- a partir de 2040, prevê-se que a força de trabalho disponível irá encolher quase 2 milhões de trabalhadores por ano;
A Europa - como espaço de prosperidade, paz e democracia - tem pela frente um dilema existencial e mesmo que fosse garantido o investimento recorde preconizado por Draghi na ordem dos 800 mil milhões de euros (o qual está longe de estar assegurado), ainda assim a receita poderá não ser suficiente.
II
Não há tempo a perder, face aos desafios inerentes à descarbonização, à digitalização, à inovação tecnológica, à necessidade de assegurar uma transição justa, temos pela frente uma mudança de paradigma em que, necessariamente, a sustentabilidade - no sentido mais amplo - será o outro lado da moeda da competitividade, a que acrescem, ainda, as complexidades do processo de alargamento, assim como as necessidades inadiáveis na defesa e na segurança.
III
O tempo corre nas suas múltiplas dimensões e a várias velocidades nesta Europa a 27. Com a revisão da Política Agrícola Comum a espreitar no horizonte e com a soberania alimentar e a renovação geracional a constituírem dois desafios estruturais para o futuro próximo, foi também apresentado o Relatório final do Diálogo Estratégico sobre o Futuro da Agricultura Europeia. A criação de novos fundos (fundo para a transição justa, fundo para a restauração da natureza) e orientar a PAC para a viabilidade económica e o apoio ao rendimento de quem dele realmente necessita são alguns dos tópicos que vão estar, seguramente, na agenda nos próximos tempos.
IV
Recuperar o tempo perdido é no que também nos temos que focar ao invés de, por exemplo, lamentar o que já se sabia de antemão ser uma impossibilidade. Acelerar a recuperação do HDES e recolocar esta infraestrutura crítica novamente ao serviço dos Açorianos deve ser a prioridade das prioridades. Continua, por isso, muito mal explicada a opção pela unidade modular e, menos ainda, a notícia sobre o pedido de ativação do Fundo de Solidariedade Europeu. Mas, esta é uma novela que, como dizem os ingleses, to be continued...