Passado que está mais de um mês desde que o ano letivo começou, são inúmeros os relatos que diariamente nos entram porta dentro, dando nota de demasiadas fragilidades com que, na presente data, se continuam a deparar as nossas escolas e, consequentemente, toda a comunidade escolar.
Entre os tantos desabafos, aquele que mais “tinta fez correr” na nossa ilha foi um aviso colocado na Sala de Convívio da nossa Escola Secundária (ESMA) que dizia o seguinte: “Encerrado devido á sujidade provocada pelos alunos”. À semelhança de tudo aquilo que acontece na nossa sociedade na era das redes socias, assim que alguém publicou a fotografia deste comunicado, os comentários que se seguiram davam para todos os gostos: houve aqueles que criticavam a atitude do conselho executivo, partindo do pressuposto que este comunicado havia sido colocado pelo executivo, outros que insultavam os alunos, outros apontavam o dedo aos encarregados de educação por não saberem educar os seus filhos, outros colocavam em causa o trabalho dos assistentes operacionais, e outros ainda debruçavam-se sobre o erro de acentuação que consta do comunicado, como um erro lesa-pátria. A democracia é também isto, a liberdade de cada um se expressar livremente onde e quando lhe aprouver, e também eu, enquanto Encarregada de Educação de dois alunos daquela escola, me sinto no dever de dar o meu contributo para a discussão.
Uma “Sala de Convívio”, em qualquer parte do mundo, é um espaço destinado ao convívio e ao lazer dos alunos, os quais devem observar/ cumprir determinadas regras, as quais podem fazer parte do Regulamento Interno da Escola, constar de regulamento próprio, ou apenas serem divulgadas, por quem de direito, aos seus utilizadores (alunos). Acresce a esta “Sala de Convívio” em particular, o facto de, simultaneamente, ser um espaço onde os alunos que levam a sua refeição de casa estão autorizados a comer. Não negligenciando a constatação de que haverá alunos mais cumpridores do que outros, convém relembrar que todos os alunos têm o direito a uma escola limpa e acolhedora, mas tudo isto só será possível com uma forte aposta na sensibilização de todos os utilizadores daquele espaço (alunos) por parte dos responsáveis pelo mesmo, mas, ainda mais importante, será a existência de Recursos Humanos suficientes que garantam a vigilância deste espaço, ou seja, a existência de Assistentes Operacionais em número suficiente para uma escola da dimensão da nossa. E esses são exatamente os que, atualmente, mais falta fazem para que as nossas escolas funcionem com a normalidade que todos desejamos. E não é atirando os nossos Assistentes Operacionais para a precariedade que vamos conseguir conquistar pessoas dispostas a integrar esta carreira, até porque aqueles que já lá estão não têm mãos a medir para tudo aquilo que lhes é solicitado.
Será que quando convidamos alguém para jantar em nossa casa, esperamos terminar o jantar com o chão varrido e a brilhar? Claro que não! Porque havemos de esperar que os alunos não sujem um espaço de convívio que ao mesmo tempo serve de refeitório?
Mas nada de desanimar, foquemo-nos antes no otimismo da Sra. Secretária Regional da Educação, Cultura e Desporto, que, perante o caos, consegue fazer, com tranquilidade e olhos nos olhos, um balanço positivo da abertura deste novo ano escolar.
Estranho mundo este...