A pergunta que mais me surgiu nos últimos dias foi: "Mas, anda tudo tolo?". Esta reflexão veio-me à cabeça após uma decisão, tomada por uma Câmara Socialista, baseada numa proposta de um partido de extrema-direita, de retirar o direito de acesso a uma habitação pública a uma família apenas porque um dos seus membros cometeu um crime. Será mesmo só tolice, ou também será medo? Medo de sermos arrastados para um retrocesso de ideias e de valores, medo do impacto de medidas populistas que parecem moldar-se à vontade dos extremistas. Confesso que tenho dificuldade em avaliar se esta é pior que a das creches.
“Ao ponto a que isto chegou”, outra frase que começa a ser comum quando observamos ideias radicais a espreitar na nossa sociedade. Mas, até onde estaremos dispostos a ir? Será razoável responder a extremismos com cedências para lhes retirar força? Para mim, a resposta, é clara: não! Os políticos não podem cair na tentação de adotar o populismo para conquistar aprovação. Pelo contrário, extremismos enfrentam-se pela afirmação de princípios e de valores.
Ninguém vê os extremos a fazerem qualquer esforço para se moderarem. Então, por que razão devem os moderados curvar-se, por receio ou insegurança, às suas exigências? Caro ouvinte, pensar que um leão se tornaria vegetariano apenas pela convivência é tão ingénuo quanto esperar que radicais se afastem das suas ideias.
Será justo que alguém pague por um crime cometido por outro? Que alguém seja punido pelo erro de um familiar, de um cônjuge, de um pai ou até de um filho? Essas políticas violam não só a ética, mas também o sentido de justiça que deveria nortear as nossas decisões.
A verdadeira coragem é mantermo-nos fiéis aos nossos valores, mesmo quando o medo nos tenta desviar do caminho.
(Crónica escrita para Rádio)