Opinião

Um novo 25 de novembro

O 25 de novembro de 1975 foi decisivo para consolidar a democracia em Portugal, travando os excessos de um processo revolucionário que ameaçava resvalar para o autoritarismo de um só lado. No entanto, é preocupante ver como a extrema-direita tenta hoje instrumentalizar esta data, igualando-a ao 25 de abril de 1974 e utilizando-a para atacar toda a esquerda, da moderada à radical. Esta narrativa não só distorce os factos históricos, como serve para descredibilizar as conquistas democráticas e sociais construídas no pós-25 de abril.

A posição do PS na história é inequívoca. Enquanto o 25 de abril derrubou o regime fascista e devolveu a liberdade ao povo, o 25 de novembro foi a garantia de que essa liberdade se consolidava num regime democrático pluralista. O PS esteve sempre do lado da moderação, rejeitando tanto a repressão autoritária do passado quanto os perigos de um radicalismo que não respeitasse a diversidade política. É, por isso, injusto e desonesto equiparar o PS às forças extremistas da época, como a extrema-direita hoje insiste em fazer.

Curiosamente, em 1975, alguma direita limitou-se a observar e, agora, tenta apropriar-se destes momentos para se colocar como defensora da democracia. Este oportunismo é particularmente grave num momento em que o discurso extremista ganha força, polarizando a sociedade e desrespeitando os alicerces da convivência democrática.

Se o 25 de novembro serviu para travar os excessos de um tempo de radicalismo, talvez seja o momento de refletir sobre o que hoje ameaça a nossa democracia. O que o país precisa não é de um novo 25 de abril, mas talvez de um novo 25 de novembro – um novo momento de firmeza contra os extremismos e pela salvaguarda da liberdade que tanto nos custou a conquistar.

 

 

(Crónica escrita para Rádio)