Em 2021, enquanto o mundo ainda enfrentava as consequências da pandemia de COVID-19, alunos, professores, pais e funcionários das escolas dos Açores depararam-se com um novo desafio: a substituição dos tradicionais manuais em papel por versões digitais.
Essa mudança, embora prometesse modernidade, rapidamente revelou falhas graves de planeamento e execução, pela falta de formação adequada para os professores, pelos atrasos na entrega de equipamentos e pela ausência de acesso universal à internet, agravando o contexto fragilizado que a maioria das comunidades educativas encontrava.
Os alunos dos 2.º e 3.º ciclos, já afetados pelas dificuldades causadas pelo ensino à distância, não tiveram uma avaliação dos impactos desse período nas suas aprendizagens nem foram implementadas estratégias concretas para mitigar os prejuízos causados.
Estas lacunas agravaram as desigualdades, prejudicando os alunos mais vulneráveis, que não dispõem de apoio em casa, seja pela falta de literacia digital dos pais ou pela incapacidade financeira de complementar os manuais digitais com os tradicionais.
Além disso, a transição digital trouxe outro problema: a exposição excessiva dos alunos aos ecrãs. Efeitos como o cansaço, dificuldades de concentração e alterações no comportamento são amplamente associados ao uso prolongado de dispositivos eletrónicos.
Em vez de aprender com as experiências de outras regiões, como a Madeira e o continente, o Governo ignorou estas lições e transformou as escolas em campos de experimentação, com consequências negativas tanto para a qualidade pedagógica como para o bem-estar dos alunos, docentes e encarregados de educação.
Esta situação leva-nos a questionar que futuro queremos na educação? Insistiremos em decisões mal planeadas que arriscam o sucesso e o bem-estar dos alunos, ou aprenderemos a priorizar as suas necessidades?
A recente aprovação de uma proposta do PS/Açores traz a possibilidade de corrigir o rumo. Um estudo independente permitirá avaliar os impactos da digitalização, desde a eficácia pedagógica até à saúde física e emocional dos alunos, devendo propor estratégias para um modelo mais inclusivo e eficaz.
É hora de agir com responsabilidade, corrigir os erros e fazer da tecnologia uma ponte para o desenvolvimento e não mais um obstáculo. Embora se tenha afirmado, em plena Assembleia Legislativa Regional, que “só estuda quem pode”, continuaremos a lutar por uma educação inclusiva e de qualidade para todos.