A ilha do Faial, nos séculos XIX e XX, desempenhou um papel estratégico na história global das telecomunicações, sendo um ponto crucial na rede de cabos submarinos enquanto ligação entre o Velho Continente da Europa e o Novo Mundo da América do Norte. Este protagonismo começou em 1893, quando a Companhia de Telégrafos do Atlântico Oriental amarrou o primeiro cabo submarino na praia da Conceição. A localização geográfica privilegiada da ilha, no meio do Atlântico, tornou-a um elo natural entre os continentes.
Ao longo das décadas seguintes, várias companhias internacionais, como a britânica Western Telegraph Company e a alemã Deutsche Atlantische Telegraphengesellschaft, estabeleceram estações na cidade da Horta. Essas estações serviam como centros de operação e manutenção dos cabos, que transportavam mensagens telegráficas vitais para governos, negócios e comunicações pessoais. A presença destas infraestruturas trouxe modernidade e prosperidade à ilha, atraindo técnicos, engenheiros e as suas famílias, contribuindo para a diversificação cultural e social da população local.
A Horta tornou-se uma cidade cosmopolita. Além de servir como ponto de interconexão tecnológica, ganhou importância política, económica e cultural. As estações de cabos empregavam uma força de trabalho significativa e transformaram o Faial num ponto de contato entre culturas, especialmente durante as duas guerras mundiais, quando os cabos submarinos eram essenciais para as comunicações estratégicas.
A ilha do Faial simbolizou a interligação entre a inovação tecnológica e o desenvolvimento local, deixando uma marca indelével na história das telecomunicações globais.
Atualmente, o legado histórico dos cabos submarinos está em risco, a aguardar, há anos, pela criação do Museu dos Cabos Submarinos da Horta. Com o passar dos anos, vão desaparecendo protagonistas que, lamentavelmente, não presenciaram a eternização destas memórias... muitos ainda acreditam que esta será uma realidade, tendo desenvolvido um trabalho fundamental, quer na recuperação do património material, quer em palestras e outras iniciativas que mantém estas memórias vivas.
Para além da importância do Museu, há a realçar o projeto elaborado pelo Grupo dos Amigos da Horta dos Cabos Submarinos de um Memorial, a implantar entre a Praia da Conceição e a Gare Marítima, beneficiando de uma vista privilegiada sobre a baía da Horta e a montanha do Pico. Com este projeto, pretende-se disponibilizar aos locais e aos visitantes um vislumbre sobre a história das comunicações e o papel desempenhado pela “Horta dos Cabos Submarinos”, no contexto internacional, homenageando os seus protagonistas e preservando essa memória para as gerações vindouras.
Este feito vai muito para além do saudosismo local, enquadrando-se na história das grandes conquistas da Humanidade e, como tal, merecedor de um realce que prestigie a ilha e a região, inscrevendo o Faial num roteiro mundial por onde passou a epopeia das comunicações por cabo submarino. Acreditemos que a breve trecho se concretize e enriqueça, culturalmente, o Faial e os Açores.