Opinião

Decadências

Longe vão as “causas da decadência dos povos peninsulares”, livro magistral de Antero de Quental. Porém, os ciclos históricos sem total repetição, parece que retornam com contextos e causas mais ou menos remotas. Fiquemos pelos três penosos anos de Guerra na Ucrânia. Morte e dor infligidas a um povo pelo ditador sanguinário e imperialista Putin. À invasão ilegítima e ilegal de Putin, os ucranianos responderam com coragem e resistência. De início, pareceu que aos EUA e Europa se alinharam na velha ordem internacional. Cedo se percebeu que Trump desordenaria tudo com o seu (mau) comportamento errático e pouco fiável. Hoje, Trump não é um mediador. Revelou-se um aliado da espoliação da Ucrânia e, (in)diretamente, um implicado nas causas de Putin. Os dois são representantes da “banalidade do mal” usando o conceito de Hannah Arendt. O que se passou na sala oval - ou saloon do faroeste (?)- demonstrou uma visão da paz como um negócio ou um leilão pelas tais Terras Raras da Tabela Periódica de Mendeleiev. Trump olhou a Ucrânia como invasor. Falseia e manipula dados como Presidente bully. Há alguma racionalidade nesta deriva? Uns invocam causas económicas da decadência financeira dos EUA, materializada, em 2024, nos gastos com os juros da dívida superiores aos da Defesa, um sinal da chamada Lei de Ferguson. Outros têm apontado as questões geopolíticas (ascensão da China) e o narcisismo patológico de Trump que aspira a Nobel da Paz conforme Obama. Estas ou outras razões não justificam saga ditatorial de regresso à lei do talião e do mais forte. Kissinger tinha razão: «Ser inimigo dos EUA é perigoso, mas ser amigo é fatal». A par da diplomacia astuta, chegou o tempo de a Europa mostrar coragem e a força de um mercado com mais de 400 milhões de habitantes. Agir é disponibilizar os ativos russos congelados na Europa, para apoiar o esforço de guerra da Ucrânia; taxar offshores europeus; reforçar a capacidade nuclear e de meios tradicionais de guerra; impedir que a Europa seja boicotada por dentro, por países como a Hungria de Orbán, o amigo de Putin. Trump precisa perceber que os europeus podem achar mais vantajoso estabelecer relações comerciais com a China… Veremos se o Reino Unido e a França saberão liderar este processo de “coligação de vontades” integrando os EUA…
Vivemos tempos conturbados com a extrema-direita a crescer com posturas messiânicas e salvíficas, que representam um modo de reproduzir as autocracias aliadas às oligarquias financeiras. É um ciclo negro da história da humanidade, idêntico ao de Hitler e muitos outros ditadores. No final, o povo sofre, revolta-se e procura a Democracia e a Liberdade. Entretanto, cabe aos democratas, resistir sempre para que o povo compreenda que os valores da Liberdade e da decência são sempre melhores do que o logro!


PS: Lá fora e cá temos governos a curto prazo. Passados 130 anos do 1º regime de autonomia administrativa (Decreto de 2/3/1895), impõe-se um Novo Futuro para acabar com a decadência da Região.