Intervenção do presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, na cerimónia de apresentação das novas imagem e embalagens das conservas de atum “Bom Petisco” da COFACO, realizada esta tarde, em Lisboa:
“Participo, com muito agrado, nesta cerimónia de apresentação da nova imagem do Bom Petisco – primeiro, porque se trata de um produto que passa a ser exclusivamente transformado na Região Autónoma dos Açores nas fábricas do Grupo COFACO, e depois, porque este grupo empresarial integra, há cerca de quarenta e cinco anos, uma das actividades mais tradicionais da nossa economia regional e do sector exportador, à qual conferimos redobradas prioridades.
O caminho que estamos a percorrer nos vários sectores da economia regional é este: produzir mais, produzir melhor, produzir com qualidade, produzir com tipicidade; e, introduzir uma nova dinâmica operacional na nossa presença nos mercados seleccionados. Para isso, o Governo dos Açores tem multiplicado as acções e os incentivos aos agentes económicos, mobilizando-os com essas finalidades.
Por exemplo, hoje, na ilha Terceira, procede-se ao lançamento da Carne dos Açores com Identificação Geográfica Protegida, em mais uma iniciativa destinada ao consumidor que procura valores de referência na oferta dos produtos alimentares como a segurança, a integridade, a genuinidade, o modo de produção próprio, a qualidade nutricional e a sua relação com os recursos e os métodos naturais.
Dos métodos tradicionais e caseiros, que alguns ainda recordam, de conservação do pescado que não se conseguia consumir em fresco – o peixe salgado, o peixe seco ao sol, o de salmoura – até aos praticados no nosso tempo, processou-se uma evolução, especialmente nos casos dos chamados peixes de sangue, com o método da conservação em moura e azeite: os atuns, cortados aos bocados, sofriam uma cozedura, antes de serem colocados em recipientes com moura, que depois eram cobertos por uma camada de azeite que, ao impedir a entrada de ar, permitia a preservação, por vários meses, do bonito ou da albacora. Depois, foi a descoberta da esterilização, no século XVIII, e a concepção de uma lata própria para os alimentos, que fizeram surgir a “conserva” tal como ainda hoje é conhecida.
Até ao aparecimento da indústria conserveira na Região açoriana, na segunda década do século XX, os pescadores das nossas ilhas ainda utilizavam o método caseiro de esterilizar o atum através da sua fervura e da sua colocação em frascos de vidro hermeticamente fechados. A COFACO, aliás, só viria a instalar-se nos Açores em 1962, desenvolvendo a partir daí uma posição influente na evolução industrial e no mercado.
A nossa indústria conserveira, constituída actualmente por quatro empresas instaladas em cinco ilhas, tem desempenhado um papel fundamental no escoamento da produção da frota pesqueira regional, designadamente no caso da espécie do bonito. É, actualmente, responsável por cerca de oitocentos postos de trabalho, predominantemente femininos, o que releva no mercado de emprego da Região, e pela laboração de cerca de 19.000 toneladas de atum. Assume, assim, uma dimensão social e económica que não é negligenciável.
Mesmo considerando a variabilidade do volume das capturas do atum nos mares dos Açores, particularmente nestes últimos anos, o sector regional de conservas tem revelado pujança e desenvolveu uma gestão que tem preservado a sua capacidade produtiva e a qualidade da matéria-prima que adquire complementarmente.
Exactamente por isso, a nossa indústria conserveira está sujeita a um acréscimo de custos de funcionamento, a que não é alheia a sua localização ultraperiférica face aos mercados do consumo, experimentando assim desvantagens face às suas congéneres do continente europeu. Porém, pode e deve fazer uso de outras vantagens que lhe estão acessíveis e que ainda pode aprofundar mais, apostando decididamente na qualidade e na inovação e no mercado de produtos de topo de gama, fazendo face à concorrência internacional.
O atum em conserva continua a ser um alimento muito apreciado na Europa, sendo por isso fundamental continuar este processo evolutivo de procura e inserção em mercados específicos e qualitativos. É também com o sentido da procura da inovação na tradição, da busca de produtos e apresentações comerciais mais apreciados, da diferenciação e da valorização do “saber fazer local”, da sensibilidade dos consumidores, que esta nova imagem da marca Bom Petisco surge e é hoje apresentada. Saúdo, assim, a conduta empresarial que está subjacente a este acto público e, bem assim, a confiança plenamente justificada que demonstram no crescimento e no potencial da economia açoriana.
Na realidade, a conserva produzida nos Açores pode e deve ser envolvida por uma tipicidade que lhe é favorável. O trabalho de qualidade realizado na linha de produção pelas mulheres açorianas, associando uma imagem de tradição e bem-fazer artesanal a uma excelente apresentação do produto final, constitui uma das marcas da Qualidade ou Tradição Açores. Por outro lado, cientes da necessidade de promover os métodos de pesca altamente selectivos e ecológicos, que são utilizados pela frota regional, o Governo Regional implementou, em 1998, em parceria com os conserveiros, os pescadores, a Universidade dos Açores, e com a associação independente não governamental “Earth Island Institute”, um Programa de Observação para as Pescas dos Açores, que tem como um dos seus objectivos monitorizar as capturas da frota atuneira. Da implementação deste programa resultou a distinção da frota regional de salto e vara com o estatuto internacional "Dolphin Safe", ficando as nossas conserveiras obrigadas ao controlo efectuado pelo “Earth Island Institute” no caso de atum importado. Igualmente importante foi a certificação recente das nossas pescarias de atum, pelo mesmo instituto, com o estatuto “Friend of the Sea”.
O atum, quando trabalhado em fresco, confere às nossas conservas características organolépticas próprias e claramente reconhecidas pelos apreciadores, sendo por isso merecedor de um certificado de origem específico reconhecido pela Região. O atum importado, quando trabalhado após congelação, desde que cumpra com as rigorosas normas comunitárias em matéria de higiene e de controlo e que mantenha os elevados padrões de qualidade a que as nossas conserveiras têm habituado os seus consumidores, constitui, também, uma mais-valia.
As empresas deste sector, tal como todas as outras, sabem que investem e trabalham numa Região onde, ao contrário de outras, a estabilidade institucional e a boa gestão das finanças públicas são conhecidas e reconhecidas, e onde a transparência e a lei totalizam as relações entre os sectores público e privado e entre estes e o Governo – onde os apoios resultam de políticas que todos conhecem e não de políticos conhecidos. Tudo isso são regras e são bons motivos para termos mais e melhores investidores privados nos Açores. São essas as expectativas.
O sector industrial conserveiro dos Açores vai continuar a dispor dos apoios regionais e comunitários para a sua contínua modernização, para a monitorização e salvaguarda constantes e rigorosas dos seus impactos no ambiente e para a melhoria das suas condições de presença e competitividade no mercado. A COFACO Açores está, estará, naturalmente, na primeira linha deste impulso renovado na economia do sector. Está de parabéns por isso. Estamos de parabéns por isso.
Muito obrigado e bom sucesso.”
GaCS/JSF