Como açoriano que sempre fez questão de se saber que o era, Mário Bettencourt Resendes gostava de se definir citando Nemésio. “Açoriano, português e cidadão do mundo” era como se apresentava, mas o país habituou-se a confirmar na sua conduta o jornalista responsável e sempre respeitado, o cidadão empenhado e de espírito livre, e o analista político que nunca confundiu a crítica com a depredação.
Nascido em Ponta Delgada, no princípio do Verão de 1952, veio a integrar, com outros jovens do seu tempo, uma geração de açorianos que haveria de desempenhar um papel de destaque no processo de democratização de Portugal, no pós-25 de Abril, fazendo da tolerância e do pluralismo as matrizes da sua intervenção cívica.
Depois de cumprido o percurso liceal na sua cidade natal, Mário Bettencourt Resendes ingressou no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, em Lisboa, porque, como ele próprio afirmou em entrevista recente, “a oferta de cursos superiores não cobria todas as vocações”.
Terá sido por influência de Mário Mesquita e por causa de uma greve revolucionária na faculdade que, em 1974, no quinto do ano do curso de Económicas, partiu para Paris, para fazer um curso de jornalismo, carreira que nunca pensou seguir mas pela qual se viria a apaixonar. “Quando deixei Ponta Delgada para ir estudar Economia, nunca me passou pela cabeça que um dia ia ser jornalista”, disse, a este propósito, à Rádio Açores TSF, em 2005.
Em Paris deslumbrou-se não só com a vivência cosmopolita das grandes metrópoles, mas sobretudo com o papel estrutural do jornalismo nos sistemas democráticos, apercebendo-se de que o Portugal Democrático, então em fase embrionária, carecia de uma nova geração de jornalistas, formada num contexto de liberdade de expressão e num sistema de valores fomentador do pluralismo e da transparência.
No seu regresso, foi novamente desafiado para aderir a um projecto jornalístico acabado de criar, o Jornal Novo, dirigido por Artur Portela Filho, que se viria a revelar de excepcional relevância no contexto sociopolítico de 1975.
Sem nunca deixar que a sua filiação política interferisse no desempenho da sua actividade profissional, também nunca fez questão de a esconder e nunca a renegou, demonstrando uma coragem e uma hombridade próprias das vozes respeitadas. Integrou, desde 1996, as comissões de apoio às candidaturas do actual presidente do Governo Regional dos Açores.
Depois de uma breve passagem pela revista semanal “Opção”, ingressou, em finais de 1976, no Diário de Notícias, onde permaneceu até ao final da sua carreira, tendo assumido sucessivamente as funções de redactor de Política Nacional, editor do suplemento "Análise DN", coordenador das secções de Política Nacional, Economia e Trabalho, director adjunto, director, entre 1992 e 2004, e finalmente administrador.
No final de uma carreira jornalística de mais de três décadas, Mário Bettencourt Resendes desempenhava as funções de Provedor dos Leitores do DN, cargo que o próprio tinha criado alguns anos antes, enfrentando algumas resistências internas e corporativas, e que considerava “um desafio muito estimulante”.
Foi também professor de Comunicação Social no Instituto Superior de Comunicação Social, analista político, responsável por programas na RTP e na Rádio Comercial e comentador de referência na TSF e na SIC Notícias, entre outros.
No plano internacional, foi vice-presidente da comissão directiva da Associação de Jornalistas Europeus, presidente da Assembleia-Geral da respectiva secção portuguesa, membro do conselho directivo do Centro Europeu de Jornalismo, tendo sido igualmente nomeado para fazer parte do Conselho Consultivo dos Utilizadores de Informação da Comissão Europeia.
Em 1993, foi galardoado com o Prémio Europeu de Jornalismo, atribuído pela Associação de Jornalistas Europeus.
Foi ainda porta-voz do Movimento Informação e Liberdade, criado em 2008, com o objectivo de ser interlocutor em todos os processos de discussão de matérias de interesse para a classe jornalística.
Pelo seu “mérito profissional”, pelo “rigor na imparcialidade” e “equilíbrio da moderação”, mereceu, em 2001, a condecoração de comendador da Ordem do Infante D. Henrique, atribuída pelo ex-presidente da República, Jorge Sampaio.
Foi o orador-convidado nas comemorações do Dia da Região Autónoma dos Açores em 2004, na ilha Graciosa, onde proferiu uma conferência subordinada ao tema “Os Açores na Aldeia Global”, sublinhando, como sempre, o valor inalienável da Autonomia Democrática açoriana.
Costumava dizer que voltava sempre aos Açores porque tinha um código genético de ilhéu, mas nunca foi preciso que estivesse fisicamente na Região para que os açorianos lhe reconhecessem a paixão e a dedicação com que sempre assumiu a sua açorianidade.
Morreu, em Lisboa, no passado dia 2 de Agosto, mas permanecerá na memória de muitos açorianos e das suas mais relevantes instituiçõoes.
Por isso, nos termos estatutários e regimentais aplicáveis, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, manifesta, através da aprovação do presente voto, o seu profundo pesar pelo falecimento de Mário Waddington Bettencourt Resendes, figura maior do jornalismo e da fraternidade açoriana, e expressa as mais sentidas condolências à sua família.