No passado dia 7 de Outubro de 2010, faleceu em Vila do Porto, Max Brix Elisabeth, quando a doença foi mais forte do que a força e vontade imensa que tinha de viver.
No entanto, neste espaço, gostaríamos de valorizar a vida, a alegria, a simpatia, a dinâmica, a força e o sorriso do amigo Max.
Parte do texto que aqui vimos apresentar não foi escrito por mim, nem por qualquer outro Deputado desta Casa. Não foi escrito por amigos próximos, nem por familiares. O texto que aqui tenho a honra de apresentar, foi escrito, muito recentemente, por Max Brix Elisabeth e resume a sua vida pessoal e familiar, constituindo um documento que o próprio iria gostar de ouvir neste momento.
“De onde vem…
28 de Dezembro de 1949, dez e trinta da manhã, tocam os sinos da Matriz de Vila do Porto. No 2º piso do número 95 da Rua Dr. Teófilo Braga, nasce o terceiro filho de um núcleo familiar de pai, mãe e duas irmãs. A mais velha, Sónia Elisabeth, nascida em Sobral de Monteagraço, a outra, Trudi Elisabeth, nascida em Ponta Delgada. Com o pai José Elisabeth e a mãe Emma Bertha Brix constituía-se a família Elisabeth, agora instalada em Santa Maria, mas que em tempos preambularam de Aldeia em Aldeia, fazendo as delícias do espectáculo circense.
Os antepassados:
Dos dez filhos de Anastácio Anastasópulo e Lúcia Cardinali, José Elisabeth, nascido em Santiago do Cacém, no Alentejo, caiu em graças de Emma Bertha Brix, natural da cidade de Breslau, Alemanha. Aos 18 anos, Emma, incorporou um circo francês que, mais tarde, em digressão pela Península Ibérica, se instalou no Palácio de Cristal, na Cidade do Porto. Nos arrabaldes estava o circo Cardinali, onde José (Pepe) se instalava com a família. Dessa recente paixão, resultou a mudança de Emma para os Cardinali.
Assim se vivia uma nova etapa do percurso de ambos. Conheceram o País de lés a lés. Como sempre, o tempo frio era passado no calor gélido do Norte, Chaves. Aí passavam cinco, seis meses, até retomar novamente a estrada com o espectáculo das maravilhas.
Em 1935, os Cardinali viajaram até São Miguel nos Açores. Após alguns espectáculos pela ilha, Pepe tem a oportunidade de trocar a vida do circo pela de fotógrafo “a la minuta”. Assim o fez. Comprou uma máquina, montou negócio nas portas laterais da igreja Matriz em Ponta Delgada, onde fotografava para a posteridade ou, simplesmente, para matar uma saudade. Nas freguesias da Maia e Furnas e Vila da Povoação, registou famílias inteiras que depois se dividiram entre o Canadá e os Estados Unidos da América à procura de novos horizontes.
Durante a Segunda Grande Guerra paravam, em São Miguel, ingleses e alemães, em barcos que reabasteciam e davam algum movimento à cidade. Nesta altura Pepe explorou, junto ao hotel Terra Nostra nas Furnas, o seu negócio de aluguer de bicicletas. O turismo ecológico ou ocasião. Ainda hoje, gentes das Furnas o recordam como a figura de vários ofícios, casado com a alemã que aprendia português, mas sem nunca perder aquele sotaque que tanto os divertia.
Inicio dos anos 40. Os americanos decidem construir uma base militar em Santa Maria. Nessa fase inicial, Pepe fotografa entre São Miguel e Santa Maria. Em 1946 decidi mudar residência definitiva para Vila do Porto. Assim se inicia uma nova viagem.
Santa Maria era, na época, o “El Dorado”, terra de oportunidades de trabalho para onde confluíam gentes de todo o arquipélago em busca da carta de chamada que lhes daria acesso à ilha.
Quem era…
Max Brix Elisabeth, inicialmente para se chamar Max Günther Brix Elisabeth (em memória do seu tio Max Günther morto num campo de concentração durante a Segunda Grande Guerra), foi criado em Santa Maria e aí permaneceu até completar 19 anos. Durante este período passou pela Mocidade Portuguesa, fez a 4ª Classe na Escola Primária de Vila do Porto, da qual passou para o Externato de Santa Maria, onde completou o 5º ano.
Distraído pelo mundo da música, que o levou a uma prestação menos boa nesse estabelecimento de ensino acabou por completar o 6º ano através de aulas particulares com Senhor Adriano Ferreira, com o qual cultivou uma amizade que ficou para a vida.
Amante da música, aprendeu a tocar diversos instrumentos, entre os quais a guitarra, a bateria e até mesmo o acordeão e fez parte de vários projectos musicais que animavam os bailes do Clube Asas do Atlântico e vários assaltos de carnaval.
Activo no desporto mariense marcou presença a jogar hóquei em patins pela equipe do Clube Asas do Atlântico e futebol pelo Grupo Desportivo Gonçalo Velho.
Neste período da sua vida, já adolescente, começou a tirar as suas primeiras fotografias e a fazer as suas primeiras reportagens fotográficas, como foi o caso do casamento da sua irmã Trudi.
Em 1969, voluntariamente, despede-se da ilha de Santa Maria para prestar serviço militar alistando-se na Força Aérea, em Lisboa, durante 4 anos, dos quais, os últimos dois foram passados em Angola, na Guerra do Ultramar.
Em 1973 regressa a Lisboa desta vez para trabalhar na Kodak, dando-se inicio à sua carreira no mundo da fotografia. Durante 6 anos aprendeu e aperfeiçoou técnicas fotográficas desde a captura da imagem até à sua revelação.
Rendeu-se aos encantos da vida de cidade aproveitando e absorvendo toda a sua energia. Juntamente com aqueles amigos, que ficaram para a vida, entre os quais José Medeiros e Bruno Ferreira, com os quais partilhou residência, no número 130 da Avenida Gago Coutinho, explorou Lisboa, Portugal Continental e a Europa, em inúmeras viagens que o levaram, entre outras cidades, a Amesterdão, cidade pela qual ganhou um carinho especial ao deparar-se com uma mentalidade aberta com pouco lugar a preconceitos e discriminações. Visitou a cidade várias vezes chegando mesmo a permanecer aí durante algum tempo instalado no sótão da residencial Laboeme, onde já era recebido de braços abertos.
Corre o ano de 1976. Regressa a Santa Maria onde dá continuidade a uma vida de exploração e festa, onde agora se junta ao pai – Pepe – no negócio de família.
Neste mesmo ano começa a namorar aquela que viria a ser a sua futura esposa, Paula Barros. O casamento acontece dois anos depois, em 1978, na ilha do Corvo onde, juntamente com os amigos Emanuel e Graça Batista se refugiaram em busca de uma cerimónia discreta.
Em 1979 nasce o seu primeiro filho, Frederico Barros Brix Elisabeth e cinco anos mais tarde completa-se o núcleo familiar com o nascimento do seu filho mais novo, Rui de Barros Brix Elisabeth.”
Durante toda a sua vida, Max participou activamente na vida social, cultural e política de Santa Maria, integrando órgãos sociais de inúmeras associações, como do Clube Asas do Atlântico, Grupo Desportivo Gonçalo Velho, Associação de Musica e Artes dos Arquipélagos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde, Associação Amigos da Praia, Circulo de Amigos de São Lourenço, destacando-se o facto de ter sido sócio fundador e Presidente da Associação Cultural Maré de Agosto durante cerca de 20 anos, sendo a alma de um dos festivais mais antigos do País. Foi correspondente da RTP-Açores em Santa Maria e de outros órgãos de comunicação social locais e regionais.
Em termos políticos, destaca-se o facto de ter sido candidato à Junta de Freguesia de Vila do Porto, tendo sido, nas últimas eleições regionais, candidato a deputado do Partido Socialista pelo círculo eleitoral de Santa Maria, sendo, igualmente membro da Comissão de Honra da Candidatura de Carlos César à Presidência do Governo Regional dos Açores,
Max era uma pessoa muito humana, que gostava de todos e de quem todos gostavam. Tinha sempre uma palavra amiga, um sorriso. Uma imensa vontade de viver! Todos conheciam o Max. Todos gostavam do Max. Ficam as lembranças, as recordações, as fotografias.
Assim sendo, pelo empenho e dedicação na defesa das tradições culturais, pelo espírito de iniciativa e dinamismo em prol dos Açores, os Deputados do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, propõem à Assembleia Legislativa Regional dos Açores, nos termos regimentais e estatutários aplicáveis, a aprovação de um Voto de Pesar pelo falecimento de Max Brix Elisabeth e de que deste voto seja dado conhecimento à respectiva família.