Ontem, Berta Cabral, considerou o Faial “como a ilha com maior potencial ao nível das atividades ligadas ao mar” e “com um histórico” que autoriza o PSD-Açores a assumir “a criação de um estaleiro de reparação naval na Horta”.
Independentemente do potencial que todas as ilhas do arquipélago têm ao nível das atividades marítimas – e onde o Faial não é exceção –, esta posição da presidente do PSD-Açores constitui, não só, um insulto à História e à memória dos grandes construtores navais do Pico, que souberam, com o seu génio inventivo, afirmar a construção naval como uma das imagens de marca da ilha, no plano regional e nacional, mas também uma tremenda irresponsabilidade e um assustador desconhecimento da realidade das nossas ilhas.
Por um lado, Berta Cabral esquece – ou desconhece – que, ao longo dos últimos dois séculos, a ilha do Pico, com destaque para a freguesia de Santo Amaro, foi o principal centro de construção naval dos Açores, e que os iates do Pico dominaram a cabotagem açoriana até ao terceiro quartel do século XX.
Por outro, propõe-se o PSD-Açores gastar dinheiro, sem critério nem necessidade, já que a reativação da indústria da reparação naval, no que respeita à assistência à frota regional e a frotas exteriores, de maior dimensão ou exigindo maior especialização, deve fazer-se por via do aproveitamento integrado e complementar das infraestruturas existentes, concretamente os estaleiros navais da Madalena do Pico e da Praia da Vitória, na ilha Terceira.
Com pouco investimento, os estaleiros navais da Madalena podem ser dotados de capacidade para subir embarcações até 700 toneladas de deslocamento leve e a sua atividade deve ser complementada pelos estaleiros da Praia da Vitória, integrando as duas estruturas e fixando nos Açores mais uma competência própria de uma região marítima e arquipelágica, essencial ao seu futuro e desenvolvimento.
Este conceito, aliás subjacente a todo o investimento que a Secretaria Regional da Economia está a desenvolver no Porto da Madalena, permite dar resposta às necessidades de toda a frota de cabotagem do arquipélago, bem como aos futuros navios de passageiros destinados ao tráfego do Triângulo e do Grupo Central, com ganhos consideráveis para os armadores e para a Região.
Neste quadro, questionamos as razões que levam Berta Cabral a não assumir o projeto dos estaleiros navais da Madalena e que, objetivamente, só podem resultar do absoluto desconhecimento da nossa Região, pois ignora a existência no Triângulo de um espaço por excelência para a prestação do serviço que o PSD-Açores agora se propõe criar na Horta. Convém salientar que é economicamente desaconselhável multiplicar estruturas que acabariam por se anularar umas às outras, sem prejuízo da importância que atribuímos à manutenção da pequena indústria de reparação naval já existente na ilha do Faial e do estímulo que a mesma merece.
Aliás, não é de estranhar que quem não conhece as contas da autarquia a que preside desconheça a realidade do resto do arquipélago, mas, sendo assim, como pode Berta Cabral candidatar-se a presidente do Governo Regional dos Açores?
Lamentamos, igualmente, o silêncio cúmplice dos Deputados do PSD eleitos pelo Pico, que ainda recentemente questionavam o Governo Regional sobre a “estratégia para rentabilizar e dar um novo impulso aos estaleiros navais da Madalena”... Ou será esta, também, uma das conclusões do trabalho desenvolvido pelo Gabinete de Estudos dirigido pelo Deputado Duarte Freitas?
Perante este insulto à História do povo do Pico e que se traduz em mais um ataque do PSD-Açores ao futuro e ao desenvolvimento da nossa ilha, o Partido Socialista manifesta o seu total apoio aos investimentos em curso e programados pelo Governo Regional para o Porto da Madalena, onde se inclui o projeto de reativação dos estaleiros navais.