Subitamente feito alvo de todas as flechas Sócrates é o bobo desta revoltada corte. O saco em que todos bordoam. Tido por muitos como grande reformista José é visto hoje pelos portugueses como o único responsável pela situação em que está o país. Entalado pelo défice, no grupo dos PIIGS, colega de países como a Irlanda (lembram-se?), a Grécia ou a Espanha. Olhados com desconfiança, corporizamos os que, de mão estendida, pedem à senhora Merkel mais uma hipótese. Como o aluno cábula pendurado na derradeira esperança. A torneira da UE a pingar lentamente, ao ritmo da tolerância internacional. Os mercados, as agências de rating, os especuladores ignorantes duma grandeza passada responsável por “dar novos mundos ao mundo”, farejam o colapso. O país reagiu aos sinais. O Inverno aproxima-se pois de negro. As medidas de austeridade condimentam o jantar e a esperança. Resta saber como chegámos aqui. E ter a lucidez de saber que o caminho não começou ontem. Que o culpado não é apenas o José da ocasião. São as escolhas de antes. Do atavismo do Estado Novo, das insanidades do PREC, da gestão descontrolada das contas públicas que começa com os governos de Cavaco Silva. Os tempos eram outros, e havia a ilusão de que a torneira não pararia de jorrar. São o termos vivido sempre acima das nossas possibilidades. O termos ignorado sucessivos alertas internacionais. O termos minimizado os efeitos desta recessão. O erro maior deste governo foi ter acreditado que poderia manter a aposta no crescimento da economia como estratégia para resolver a difícil questão do equilíbrio financeiro. O problema foi ter adiado sucessivamente o inevitável e tê-lo feito reactivamente. A UE ameaça voltar-nos as costas. Endurece o olhar sobre os nossos actos. Espia-nos e ajuíza. E deste juízo dista a beira do precipício. Estamos quase sozinhos, mas não estamos sós e muito menos derrotados.