O orgulho açoriano, de Santa Maria ao Corvo, é algo tão genuíno que se reconhece a muitos oceanos de distância. Sentimo-nos ligados às nossas raízes, à nossa gente, ao sotaque, aos sabores, às festas, às histórias, aos locais, a uma identidade única que só “ali” faz sentido.
Mas é também este orgulho, que sem darmos por isso, vira outra coisa — fecha-nos, faz-nos pensar que o que é “nosso” é sempre melhor, e que os outros estão só a atrapalhar. Aí, o bairrismo deixa de ser saudável.
A verdade é que nenhum lugar cresce de verdade se estiver sozinho. Quando uma zona avança e outra fica esquecida, perdemos todos. O crescimento precisa de ser equilibrado, justo, pensado com cabeça e com coração. Precisa de ouvir todos, de respeitar as diferenças, e de encontrar formas de caminhar lado a lado.
Não estamos em tempos de competição entre freguesias, ilhas ou comunidades. Estamos em tempos de união. De perceber que os desafios são grandes demais para serem enfrentados cada um por si. E que o sucesso de uns pode — e deve — puxar o sucesso dos outros.
Numa Região como a nossa, dispersa por 9 ilhas de diferentes dimensões, é fundamental trabalhar em rede, partilhar ideias, recursos e vontades.
E foi exatamente isto que não senti quando há dias ouvi a Sra. Secretária Regional da Saúde e Solidariedade Social, Dra. Mónica Seidi, a justificar a construção do Hospital Modular, em São Miguel, com a necessidade de “assegurar que os pacientes recebem cuidados adequados sem serem expostos aos inconvenientes e riscos associados a um ambiente hospitalar em obras.”.
Sem nos deixarmos cair na tentação de qualquer espécie de “bairrismo”, é inevitável constatar que se aceitarmos este argumento como válido, impõe-se questionar a titular da pasta da saúde do atual executivo, porque não temos no Faial uma estrutura modular durante os dois anos estimados para a conclusão das obras a decorrer no nosso hospital?
Será que um hospital que serve não só a Ilha do Faial, como também as ilhas do Pico, São Jorge, Flores e Corvo, não merece exatamente a mesma preocupação por parte deste executivo? Porque não foi possível encontrar uma solução que garantisse o normal funcionamento do Hospital da Horta?
É exatamente esta opção de tratar de forma diferente aquilo que é igual que dá aso a “bairrismos” exacerbados, que coloca açorianos contra açorianos, que alimenta rivalidades e que fere de morte a coesão tantas vezes apregoada.
Ainda sobre o nosso Hospital da Horta, estou certa de que todos os faialenses receberam com agrado a notícia relativa ao futuro apetrechamento desta infraestrutura hospitalar com um TAC (Tomografia Computorizada) e de um aparelho de RM (Ressonância Magnética), ao abrigo do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). Quero acreditar, que com vontade e à margem do discurso “bairrista”, chegará o dia em que teremos os três hospitais da nossa Região equipados ao mais alto nível. Mas como tão bem diz a sabedoria popular, “de promessas está o inferno cheio” e quando as promessas se arrastam no tempo, neste particular há quase 1 ano, o povo (legitimamente) desconfia... Resta-nos por isso aguardar com serenidade a concretização destes investimentos, que muito contribuirão para deixarmos de nos sentir “açorianos de 2a”, quando aquilo que ansiamos, é voltarmos a sermos todos “açorianos de 1a”!
Haja saúde!