O futuro dos Açores poderia estar a ser escrito de forma diferente. Poderíamos estar a assistir a uma transformação na saúde, na educação, na habitação e nos transportes. Poderíamos estar a garantir serviços públicos mais eficientes e menos onerosos. Poderíamos estar a preparar uma Região mais forte e resiliente. Mas não estamos.
O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) foi desenhado para reestruturar os Açores. Assegurado pelo último Governo do PS, este plano tinha um objetivo claro: resolver problemas estruturais, garantindo que os custos fossem menores e que a Região se tornasse mais sustentável. Com financiamento, estratégia e metas definidas, a oportunidade estava lá. Mas desde 2020, o Governo da Coligação falhou na sua execução.
Os números falam por si. Segundo dados recentes do Eurostat, os Açores são a Região do país com maior pressão de pobreza e exclusão social. Mais de 30% da população está em risco, e, mesmo após prestações sociais, essa taxa mantém-se nos 26,1%, sem paralelo no restante território nacional. A taxa de privação severa nos Açores (12%) é quatro vezes superior à do Alentejo (3%), revelando dificuldades graves no acesso a bens e serviços essenciais. Além disso, a esperança média de vida na Região é inferior à do continente, um reflexo direto da precariedade das condições de vida.
O que deveria ter sido uma reforma profunda tornou-se um desperdício de recursos. Na saúde, os tempos de espera aumentam, faltam meios e a recuperação do principal hospital da Região continua incerta. Na educação, o investimento nos manuais digitais gera mais dúvidas do que certezas. Na habitação, a falta de um plano eficaz mantém famílias em casas sem condições. Nos transportes, não houve avanços – apenas retrocessos. Mesmo com o PRR, os Açores não melhoraram.
E o pior? Uma oportunidade como esta não se repetirá — sobretudo num contexto europeu e internacional cada vez mais exigente, onde o aumento do investimento na defesa reduzirá os recursos disponíveis para a coesão territorial.
O Governo da Coligação não só falhou na reestruturação da Região, como agravou a situação. Sem soluções concretas, tenta passar responsabilidades para o Governo da República, enquanto a dívida pública cresce e as contas se deterioram. O PRR deveria ter sido um motor de mudança, mas tornou-se um retrato do que acontece quando se governa sem estratégia, sem coragem e sem compromisso real com as pessoas.