Opinião

Bairrismos e divisionismos

Alguns acontecimentos recentes levam-nos a recuperar e adaptar algumas referências e questões já abordadas nesta coluna sobre este assunto e que continuam a ser pertinentes. No Faial dizem-nos que valorizam de mais as infraestruturas portuárias da Terceira e que isso não pode acontecer porque minimiza o Faial. No Pico reivindicam tratamento igual ao Faial, seja la o que isso for. Na Terceira dizem-nos que a Ilha esta a ser “esvaziada” e que vai tudo para São Miguel. Em São Miguel dizem-nos que os apoios para as empresas estão centrados na Terceira, que a sede da Protecção Civil e o Laboratório Regional de Veterinária não deviam estar na Terceira mas sim na Ilha mais populosa. Em São Miguel reactivam o Conselho de Ilha para defender os interesses da Ilha contra o “poder reivindicativo dos deputados das outras ilhas” e para defender mais “equidade na distribuição do investimento público”. Na Graciosa alertam para a necessidade de cuidados especiais para as “ilhas mais pequenas” na distribuição das verbas do POSEI “para que não se beneficiem as ilhas maiores”. Em São Miguel defendem que se beneficie quem produz mais. Em São Miguel criticam o “peso” excessivo da Terceira e na Terceira criticam o poder reivindicativo de São Miguel. Enfim…As reivindicações de mais investimento e mais atenção para as respectivas Ilhas são legítimas e respeitáveis e temos a obrigação de as ouvir e perceber a sua exequibilidade e pertinência. Mas isso não nos pode retirar a clarividência nas análises do presente e, sobretudo, do futuro. As “forcas vivas” de cada ilha, o poder politico, as câmaras do comércio, os parceiros sociais e económicos, têm um papel importante no desenvolvimento dessas ilhas e, consequentemente, no desenvolvimento regional. Mas é muito ténue a fronteira entre a reivindicação responsável e exequível e a promoção de bairrismos e divisionismos que nada têm de positivo. A lógica divisionista poderá alimentar alguns egos, algumas páginas de jornais ou tentar disfarçar algumas incapacidades. Eventualmente dará ganhos circunstanciais no imediato, mas será sempre uma lógica inconsequente no médio prazo. Hoje, mais do que nunca, a nossa lógica de desenvolvimento terá de ser complementar e é nessa base que temos de trabalhar. Defender que uma Ilha deve ser o motor económico das outras não é condicente com a evolução histórica dos Açores, nem com um modelo de desenvolvimento eficaz e consequente para um arquipélago como o nosso, que consiga ultrapassar os constrangimentos das nossas especificidades e ao mesmo tempo potenciar e valorizar as mais-valias dessas características. No momento em que estão a ser discutidas as orientações da aplicação do novo quadro comunitário nos Açores até 2020, temos de nos concentrar no que verdadeiramente interessa, usar estes instrumentos de programação financeira e as verbas disponíveis para iniciar um novo ciclo de desenvolvimento dos Açores, sustentável, equilibrado e complementar. Somos poucos. Divididos seremos muito pequenos, unidos podemos ambicionar ser grandes e com isso ganharão todos.