Havia um colega meu da direita partidária que me dizia que nas políticas públicas, nos Açores, o seu partido era “social-democrata em São Miguel, socialista na Terceira, e comunista nas restantes ilhas do arquipélago”. Já lá vão quase seis anos desde essa interessante conversa - o seu partido, hoje, tem outra identidade – que tem o pressuposto, curioso e revelador mesmo para a direita política, de que o desenvolvimento dos Açores só pode ser alcançado através de políticas públicas de redistribuição da riqueza. Ou seja, de que os poderes públicos têm de, necessariamente, descriminar positivamente determinadas realidades em função das suas dificuldades.
Nada de novo pensava eu. Afinal, quando afirmamos a nossa Autonomia face ao país e reivindicamos mais poderes e recursos em função da nossa situação singular de periferia e de insularidade, estamos a pedir que a nossa Região seja discriminada positivamente pelos contribuintes do Continente.
Lembro-me bem da indignação – porque também participei no protesto – quando alguns atores políticos do Continente afirmaram – e, alguns ainda afirmam – que os contribuintes portugueses não tinham de suportar as Regiões Autónomas.
Nada de novo no arquipélago, pensava eu também, pois assisti a políticas públicas, algumas até financiadas com dinheiro proveniente de contrapartidas da base americana na ilha Terceira, de apoio a calamidades, como sismos e enxurradas ou até de apoio a situações de carência social.
Lembro-me de observar alguns militares e máquinas americanas a trabalhar, em São Miguel, num acesso à freguesia das Furnas aquando da situação de calamidade, na década de 90. Nem na altura, nem agora, me ocorreu agradecer aos meus amigos terceirenses pelo facto dessa ajuda americana ter tido origem numa contrapartida pela presença americana na ilha Terceira. Afinal, para mim - na minha inocência de pensamento - a Base americana ficava nos Açores.
Lembro-me muito bem, também, da situação do sismo no Faial, onde a Região lutou, com todas as suas forças, para que da República houvesse o reconhecimento da necessidade de apoio à reconstrução da ilha. Sabemos como terminou essa situação. A Região pagou uma parte da reconstrução e a República outra. Nem na altura, nem agora, me ocorreu pensar que um faialense me devesse agradecer, enquanto micaelense, pelo meu contributo, muito menos, que, enquanto Açorianos, devêssemos agradecer à República pela sua solidariedade.
Aliás, o problema dos bairrismos é que para além de nos tornar mais fracos e pobres - porque somos mais fracos quando nos dividimos! – corre o risco de se tornar uma discussão eterna, tal como numa guerra de vizinhos em que nunca saberemos quem deve a quem. Uma discussão de café absurda e interminável:
- O Corvo acusará as Flores de ter um hotel público e as Flores lamentará o Corvo, pelo investimento nas renováveis; O Pico quererá serviços da Região que estão no Faial e vice-versa; A Graciosa quererá uma marina porque São Jorge tem; Santa Maria quererá as escalas técnicas no aeroporto que estão em São Miguel; A Terceira acusará o Governo de favorecer o investimento São Miguel e São Miguel reivindicará também um plano de revitalização. Etc.
Toda esta discussão numa Região tão pequena com 250 mil pessoas.
Somos uma Região! Somos todos Açorianos!
Nota: Açores acelera criação de emprego
O número de desempregados baixou 9% de 2013 para 2014.Desde há 6 anos que não assistíamos a um crescimento do emprego tão vincado na nossa Região, cerca de 3,8%, no último trimestre de 2014.
Mais um bom sinal de otimismo em relação ao futuro!