A altura é de polvorosa. Os gregos andam nas bocas do mundo. São uns rebeldes para uns, serão uns heróis para outros. No domingo falaram através do referendo que resultou no “Não”. A pergunta era capciosa, mas a resposta dos gregos rejeitou a austeridade. Não sabemos se apenas esta austeridade, se todas. O “Não” do povo grego serviu para dar um vislumbre do que pode ser ainda uma réstia de soberania nacional, que tende a estar rarefeita noutros países. E é inegável que operou a união do povo grego contra este tipo de políticas dos últimos cinco anos e que os arrastaram para uma situação hoje insustentável. O impasse que a Grécia vive ficará decidido nos próximos dias, extremaram-se posições, demitiu-se o ministro das finanças e agora é o tudo ou nada. O eventual abandono da Grécia despoleta um verdadeiro desmoronamento. Em termos concretos e em termos simbólicos. Em véspera de eleições legislativas em Portugal, a Grécia tem sido brandida pelos partidos da coligação como o bicho-papão. Se os portugueses se portarem mal, e fizerem o PS regressar ao poder, ficarão como os gregos. A fazer fila nos multibancos para levantarem dinheiro racionado. O que Passos se esquece de dizer é que os portugueses já fazem fila. Nos bancos alimentares, nas urgências dos hospitais, na segurança social. Na assembleia nacional as invocações bíblicas serviram para assustar os mais incautos, alertando para os falsos profetas. Esquecidos que estão do profeta Passos que prometeu o contrário do que fez. Os partidos do governo estão satisfeitos, e a oposição tem sido demasiado frouxa a expor as muitas nódoas desta governação. Que deixa um rasto de pobreza vergonhoso e indigno. Meio milhão de portugueses emigrados. Pensionistas espoliados, o poder de compra dos portugueses vandalizado, o esmagamento da classe média. O pânico é real, mas não está em ficarmos como a Grécia, está em ficarmos para sempre na situação em que estamos.