Opinião

A candidata escondida

I.O PSD Açores está a esconder a sua cabeça-de-lista atrás de Passos Coelho e da governação nacional. Pesados os prós e contras das várias estratégias eleitorais possíveis, os social-democratas optaram por fazer crer aos açorianos que estão a votar para escolher o Primeiro-Ministro e não para legitimar os representantes dos Açores no Parlamento nacional. Das duas uma. Ou o PSD Açores acha que a Dra. Berta Cabral não tem peso político específico ou então acha que até o Governo “austeritário” de Passos Coelho tem mais apelo eleitoral do que a figura que supostamente teria imposto à Direção nacional do partido para encabeçar a lista pelos Açores. Num caso como noutro, contudo, o que sobressai é que Duarte Freitas não quer uma campanha centrada no confronto Carlos César/Berta Cabral, apesar de se afirmar como o principal responsável pela escolha da atual Secretária de Estado, contra Mota Amaral e a vontade de boa parte do PSD Açores. II. É verdade que Berta Cabral não tem propriamente um currículo brilhante na defesa dos interesses da Região enquanto Secretária de Estado da Defesa. É verdade que a relação entre o atual líder do PSD Açores e a atual cabeça-de-lista às Legislativas sofreu bastante com o episódio da substituição inesperada de Duarte Freitas por Patrão Neves aquando das Europeias de 2009, enquanto Berta Cabral era líder do PSD na Região. É também verdade que, ao contrário do que foi bastas vezes propagandeado, o abandono de Mota Amaral e a decisão de entregar a liderança da lista a Berta Cabral foram opções de Lisboa e faltas de opção do partido nos Açores. Mas esses são problemas existenciais do PSD e não alteram em nada a essência da votação na Região. Nos Açores, ao contrário do que se passa em Lisboa, no Porto, em Braga ou em Setúbal, vota-se pelas causas regionais e escolhem-se os representantes da nossa terra junto do Terreiro do Paço. Enquanto em Lisboa, por exemplo, cerca de um milhão e novecentos mil eleitores elegem quase um quarto dos deputados da Assembleia da República, registando-se uma relação distante e difusa entre eleitores e eleitos, nos Açores cerca de 227 mil eleitores escolhem cinco personalidades para serem porta-vozes dos seus anseios específicos e das suas legítimas aspirações junto de um poder centralizado, desconhecedor e desconfiado das pretensões regionais. Essa especificidade não deve ser desvalorizada porque é da essência da nossa Autonomia e constitui um dos poucos instrumentos de afirmação da Região ao nível do poder nacional. De cada vez que nos pedirem para votarmos a pensar exclusivamente no Primeiro-Ministro, como o PSD Açores está apostado em fazer, estão, simultaneamente, a favorecer a lógica do país que não nos conhece nem nos quer compreender. III. Mas há mais. Ao renegar três vezes a possibilidade de concorrer aliado ao seu parceiro de coligação na governação da República, o PSD Açores vê-se agora obrigado a lutar com o CDS-PP Açores para não perder um mandato na Região, assentando o seu discurso nas virtualidades da Governação que ambos fazem na República. Por outras palavras, diz ao eleitor açoriano para votar no PSD, e não no CDS-PP, porque ambos governam maravilhosamente o país. Além de incongruente, este é um argumentário próprio de quem, paradoxalmente, se vê obrigado a expor todas as suas fraquezas para não parecer fraco. IV. O calvário estratégico em que se meteu o PSD Açores tem como última estação o princípio aprovado pela Comissão Política Nacional dos social-democratas, em julho passado, instituindo que “os candidatos a deputados deverão comprometer-se a renunciar ao mandato no caso de existir uma persistente divergência entre as orientações gerais do grupo parlamentar e a sua posição individual”. Esta regra antidemocrática e violadora do princípio da individualidade do mandato significa que Berta Cabral nunca será capaz de fazer o que Mota Amaral fez em relação à revisão da Lei das Finanças Regionais – por os Açores acima da vontade de Passos Coelho. Talvez por isso seja agora cabeça-de-lista, enquanto Mota Amaral deixou de contar. Certamente também por isso seja agora uma candidata escondida, à boleia da Governação da República, da qual faz parte e à qual nunca se irá opor.