Opinião

A invalidez diplomática

Os regimes autoritários revelam-se nas assunções extremistas com os mais básicos direitos humanos. Durante anos, muitos angolanos lutaram contra um regime colonial autoritário. Após a independência substituíram-no por outro regime totalitário que já não luta contra a população branca mas penaliza a própria população negra. As atrocidades e desrespeito pela dignidade humana todos os dias chegam até nós, recentemente, em relação aos presos políticos por delito de opinião. Os regimes comunistas acabaram por serem os carrascos da sua existência porquanto libertaram-se de ditaduras para gerar outras. Como doutrina colocaram em causa os próprios princípios do materialismo dialético ao revelarem-se em contradição na governação adotada. Esvaziaram a sentença da autodestruição do capitalismo porque não contaram com as variantes que emergiram em sociedades mais plurais. Esta capacidade de passar a novos estádios de democracia foi mais fácil em clima de maior liberdade de pensamento e ação. A força da democracia plural tem sido, timidamente, assumida em algumas dimensões como na economia privada, autorizada ou consentida nos países comunistas da atualidade. Em nenhuma circunstância isto deveria servir para justificar o neoliberalismo selvagem, combinado por Reagan e Thatcher e espalhado no dito mundo ocidental. As desigualdades sociais e as invetivas para a destruição do estado social têm constituído a expressão mais anticivilizacional em muitos países da Europa que perderam a sua matriz humanista. De qualquer modo, reportando-se à questão da greve de fome e prisões de angolanos, sem culpa formada mas com culpa inventada, facilmente se conclui que estes regimes são tenebrosos pelas práxis políticas desumanas que impõem sem apelo nem agravo. A Europa que já passou pelas agruras de ditaduras continua lenta a intervir nestas questões. Porém, são sempre lestos e impiedosos na (des)regulação das finanças e economia de muitos países da Europa meridional. A invalidez diplomática, a que se assiste, é inaceitável perante os gritos e o apagar da respiração dos que disseram NÃO ao totalitarismo angolano. Neste quadro, é muito natural que muitos cidadãos, tanto não se revejam no neoliberalismo como nas soluções governativas de esquerdas ortodoxas, despojadas oportunisticamente, daquilo que até 4 de outubro defendiam. Por isso, a melhor “diplomacia” para a nossa Região faz-se sempre com os Açores em primeiro lugar.