Opinião

A cidade que se perde

São os edifícios que desaparecem e com eles a nossa identidade. A identidade da cidade que todos os dias perdemos. A única certeza é que é irrecuperável. A outra certeza é a de alguém lucrar com esta perca. No centro histórico é muito comum encontrar turistas de máquina em punho a fotografar o património que são as moradias de outros séculos, as varandas, as cantarias, que se auto assumem como um roteiro turístico. Já são poucas as que existem. No centro histórico é muito comum encontrar turistas de máquina em punho a fotografar a igreja da Matriz, fechando o plano para que nenhum carro seja parte do quadro de recordação. Raro é o dia em que um carro não adorna a igreja. No centro histórico é muito comum encontrar turistas de máquina em punho a fotografar o património que é o das Portas da Cidade. Tarefa difícil, tantas são as ocupações, tendas e afins, que este espaço é alvo. O património Portas da Cidade é palco para tudo. No centro histórico existem espaços fechados, outros já reabertos foram destruídos, que guardam traços de lojas comerciais tradicionais. Nenhuma salvaguarda para esta identidade. No centro histórico há o Neo Palacete Caetano de Andrade. Em tempo recorde o projeto foi viabilizado e as licenças foram emitidas - não deixa de ser estranho por ter conhecimento de descontentamentos por parte de empresários que aguardam meses para o despacho de um projeto de urbanização ou de uma licença de utilização camarária, que está longe de ter esta envergadura e complexidade. Por outro lado, não deverá ter nada de estranho, quando o Dr. Bolieiro, a propósito da sessão das galerias da Calheta de Pero de Teive, garantiu celeridade após a entrada do pedido de informação prévia e do projeto final. Que “corredor verde” existe para uns e para outros não? A intervenção no Neo Palacete Caetano de Andrade, sem qualquer constrangimento por parte da autarquia, ainda beneficiará de incentivos fiscais ao abrigo do programa REVIVA. Afinal somos todos “apoiantes” do desaparecimento desta identidade. Há anos que o PS sugere a realização de um plano de salvaguarda do centro histórico. A última vez foi em Setembro de 2016. A primeira, no ano de 2016, foi em Março. Até quando o Dr. Bolieiro continuará a negar a urgente elaboração de um plano de salvaguarda do centro histórico? Desde 2005 que o PS o propõe. Quantos mais imóveis farão apenas parte de fotografias? Se o plano de salvaguarda do centro histórico tem o constrangimento político de ter sido proposto pelo PS, fica aqui outra sugestão: imóveis classificados como interesse municipal. Entre carros e tendas a mais, varandas, património e identidade a menos, será só coincidência de más decisões ou incapacidade de proteger a identidade da cidade?