Opinião

A falta de água ou a nossa falta

Nos últimos dias foram notícia situações de seca em algumas ilhas dos Açores. A falta de água para o consumo humano não se verificou, mas para o setor agropecuário pode estar em risco. Há falta de água ou somos nós que faltamos com o seu uso racional? continuamos a não ter consumidores conscientes e responsáveis; continuamos a não ter autarquias que promovam um tarifário de água que privilegie os consumidores responsáveis, poupando água e energia. Por outro lado, continuamos a ter autarquias, e bem, que para o setor agropecuário têm um tarifário com escalão único, contrariamente aos tarifários dos consumidores domésticos e outros setores empresariais. Pelo que, não é despiciente que os empresários do setor agropecuário, aproveitando esta mais-valia todo o ano e as águas pluviais em alguns meses, garantam reservatórios próprios dando, quando necessário, uma primeira resposta e evitando a perda do cultivo. Perante este fenómeno resultante das mudanças climáticas, prontamente as associações do setor agropecuário reivindicaram os prejuízos e o Governo Regional respondeu com ações imediatas - reforço de abastecimento e transporte de água para pontos específicos das ilhas afetadas - e de forma estrutural com o já existente Plano Regional para as Alterações Climáticas(PRAC) e antecedido pela Estratégia Regional para as Alterações Climáticas. A água é um dos recursos naturais mais importantes, toda e qualquer utilização não deve comprometer a disponibilidade para as gerações futuras. Seja a sua utilização nos Açores ou em qualquer local do mundo. É por este princípio que estranho que na ilha das Flores não haja lugar à contagem ou pagamento do consumo de água. Esta situação é contrária ao estímulo de um consumo responsável. A água que não seja utilizada das imensas nascentes existentes nas Flores, voltará ao seu ciclo de vida. Numa lógica global, mas de respostas locais, importa uma atitude solidária e um compromisso geracional no consumo e uso de água. A perspetiva da falta de água a todos nos preocupa. A situação vivida este verão deve ser considerada como um alerta para os consumidores e para os gestores públicos. A preocupação do Governo Regional com as alterações climáticas, não é deste verão, e por essa razão existe o PRAC, assim como outras medidas como a constante motorização (monitorização?) das massas de água nas lagoas e que agora será reforçada. Importa que as autarquias revejam o modelo de tarifário para o consumo de água, potenciando e privilegiando consumidores e empresas responsáveis; e se analise uma possível alteração do modelo de gestão de distribuição da água, em algumas ilhas, evoluindo de um modelo de gestão por concelho para um modelo de gestão por ilha - em agosto de 2013, em artigo de opinião defendi esta opção -, à semelhança da gestão de resíduos, O recurso (ainda) existe. Antes que a água nos falte na torneira, não faltemos nós perante o uso que se exige responsável.