Opinião

Joeirar poeira

Em períodos eleitorais revelam-se algumas más consciências políticas com a história Açores-República. Todos os partidos e também os deputados pelos Açores na Assembleia da República, pseudo- arrependidos ou não, aprovaram e até elogiaram na Comissão de Economia a autorização para os Governos Regionais poderem aumentar o endividamento, para acudir às situações urgentes da pandemia. O Governo da República também aumentou o seu endividamento para responder às inúmeras medidas que tomou para o País, muitas das quais tiveram aplicação nos Açores com as majorações do nosso Governo. Aquando das calamidades provocadas pelo furação Lorenzo, o Governo da República do PS disse PRESENTE. Também já tinha sido assim no sismo de 98. Porém, depois de 1999 vieram Governos do PSD que não só recusaram solidariedade como impediram o endividamento da Região porque, pasme-se, afetaria o défice em 0,005% do PIB. Na Terceira, em 2013, nos estragos do Porto Judeu, Passos Coelho recusou de novo solidariedade. Entendamo-nos, o próprio ex-Presidente Mota Amaral, por altura da Lei de Finanças Regionais considerou que os Governos PS na República tinham sido mais compreensíveis para com os Açores. Aliás, as suas guerras travadas com Cavaco estavam bem presentes. Há uma infinidade de exemplos que demonstram a grande diferença dos governos da República do PS para com os Açores, sem nenhum paralelo com os maus Governos da República do PSD para com os Açores. Começando pelo fim, para além da atual autorização de endividamento, os Açores ainda terão acesso aos fundos europeus de resiliência económica, para além da reprogramação dos fundos comunitários. Até parece que isso assusta os que conseguem ver a política a 10 anos... Por outro lado, nos tempos mais recentes, foram os Governos do PS na República que alargaram as obrigações de serviço público às viagens inter ilhas, fizeram reverter para os Açores a percentagem que nos cabia das receitas dos jogos da Santa Casa, deram igual tratamento aos Açores e à Madeira nas evacuações médicas (antes a Madeira não as pagava, mas os Açores sim) e aumentaram as transferências da República. Com os Governos PS na República é extensa a lista positiva de medidas para os Açores e para quem tem mais memória: duas Leis de Finanças das Regiões Autónomas que garantiram previsibilidade e estabilidade socioeconómica; uma baixa do tarifário elétrico em cerca de 25%, encontrando-se uma forma estável de convergência com o todo nacional através da extensão da Entidade Reguladora do Sistema Elétrico às duas Regiões Autónomas; a despenalização dos agricultores açorianos que excederam as suas quotas de produção de leite, a Região ficou fora do embargo da União Europeia feito a Portugal a propósito da BSE;a chegada do canal 1 aos Açores; as tarifas telefónicas inter-ilhas que passaram a preços de chamadas locais (antes nacionais); a difusão por toda a Região dos canais generalistas; grande investimento na sociedade de informação; e transferência de atribuições do Instituto Geográfico Português para a Região Autónoma dos Açores. Por isso, nos Açores há uma má tradição com Governos da República do PSD. Nos Açores, após 1996, não restam dúvidas que os Governos da República do Partido Socialista foram muito mais colaborantes e mais solidários, apoiando-nos política e financeiramente, e demonstrando que a solidariedade é real. É tempo de joeirar a poeira. Ninguém acredita nos que agora tentam esconder os factos com a poeira da cegueira ou com a cegueira da poeira.