O Documentário de Werner Herzog e André Singer, “Encontrando Gorbachev” – merece ser visto
Poucas personagens da História do Séc. XX atingem o “pathos” trágico de Gorbachev. Primeiro líder soviético a nascer após a revolução de outubro de 1917, ele ficará na História, muito provavelmente, como o coveiro de um Império, que através das suas reformas revelou fraqueza, e tentou “amarelar” a pureza da revolução. Nada mais falso, segundo o próprio…
A verdade é que a União Soviética era, no início da década de 80 do século passado, um império ultrapassado e falido: sustentar os satélites (europa de Leste, Cuba, Vietname, alguns países africanos) revelava-se uma empresa ruinosa; em termos económicos, científicos e mesmo militares, a URSS estava a ser claramente ultrapassada a doutrina Brejnev, de ingerência violenta nos “desvios” dos seus satélites, como Budapeste e Praga, afastou qualquer ilusão de outro tipo de socialismo que não o do domínio imperial.
Gorbachev enfatiza no documentário: “eu queria mais socialismo”, acompanhado de recuperação económica, mais liberdades e recusa da violência como método, quer interno, quer externo. Ao dizer, “não haverá uma repetição de 1956” (esmagamento da revolta de Budapeste), foi entendido como licença para a dissidência dos países que compunham a União e pertenciam ao Pacto de Varsóvia… até à queda do Muro de Berlim. E é claro que Ieltsin só cresceu devido à tolerância pacífica do mesmo Gorbachev.
E é claro que o “sucesso” de Putin parece ressuscitar, com trágica ironia, uma constante da História da grande Rússia. A doce vingança de Gorbachev constará do seu epitáfio: “Tentámos” …
E nós tentámos, ao contrário do habitual, chegar com estas crónicas até fins de julho, uma atipicidade num ano atípico. Voltaremos em setembro. Até lá… e as melhores férias possíveis!