Opinião

Bolieiro nas mãos do apparatchik Ventura

No início do corrente ano escrevi, neste mesmo espaço, um artigo de opinião intitulado “Diretas do PSD: 4 avisos a Bolieiro!”, sendo que um dos “avisos” tinha por subtítulo “Nas mãos de Ventura?”. Ora bem, esta minha reminiscência surgiu a propósito da escolha de Bolieiro (?) para cabeça de lista do PSD/Açores pelo círculo eleitoral da ilha Terceira para as eleições que decorrerão (tudo aponta) no próximo dia 25 de outubro. A escolha (ou autoimposição?) de António Ventura é um tremendo erro político (mais um!) cometido pelo ex (?) Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Bolieiro – ainda que para mim não fossem necessárias mais “provas” – respondeu com uma clareza ímpar à pergunta que havia aqui deixado em jeito de “aviso”. A única explicação para este gigantesco “tiro no pé” é, de facto, a dependência total de Bolieiro face a António Ventura. Ventura, como comandante mor de um aparelho entrincheirado em Angra, contribuiu decisivamente para a vitória de Gaudêncio frente a Nascimento Cabral. Tal como foi decisivo na mais recente vitória interna de Rui Rio. E foi esse percurso que abordei há uns meses nos ditos “avisos” a Bolieiro, no qual escrevi o seguinte: “O problema de Ventura é que não ganha extra partido.” Bolieiro e os seus companheiros do PSD/A sabem isto. Da Câmara de Angra à Assembleia da República, passando pela Assembleia Regional, a regularidade do candidato Ventura é assinalável e traduz-se num pleno de derrotas eleitorais. Mas a verdade é que, a cada derrota em sufrágio universal, António Ventura responde com vitórias robustas a nível interno. Os companheiros de partido, principalmente os terceirenses, não parecem muito preocupados com a sucessão de derrotas. Os motivos, seguramente legítimos, não são fáceis de vislumbrar e muito menos de compreender. Não obstante tal mistério, o que é inequívoco é a força de António Ventura nos anteriores e atual PSD/A. Bolieiro é apenas mais um líder que passará pelas mãos de Ventura, cairá pós-eleições e Ventura continuará a (tentar) ser decisivo na eleição do senhor ou senhora que se seguirá. Esta tem sido a história recente do PSD/A e, pelo andar do filme, não mudará muito nos próximos anos. Independentemente do número de cenas caricatas em que António Ventura seja o protagonista. Na verdade, depois de assistirmos todos à tentativa de Ventura explicar, perante a comunicação social, uma espécie de rábula sobre o dom da ubiquidade e que pode ser transcrita como «estou na Assembleia da República para defender os Terceirenses e é isso que vou continuar a fazer até às eleições regionais (qual suspensão do mandado, qual quê?), mas também sou candidato à Assembleia Regional dos Açores para dar voz aos Terceirenses na esperança de que possa ir para um governo do PSD para, aí sim, defender e ser a voz dos Terceirenses», não deverá surgir nada tão atabalhoado, patético e contrário ao mais elementar dos deveres de qualquer eleito: o respeito pelo voto. E assim vai o estado da arte no PSD… onde o A é de apparatchik e já não de Açores!