"Não havia necessidade"...
A frase é de uma célebre personagem popularizada por Herman José - Diácono Remédios. É uma expressão que calha bem na sequência da recente aparição do Presidente do Governo Regional quando há uma semana anunciou, ou procurou anunciar, a implementação de novas medidas de contenção da propagação do vírus SARS-CoV-2 na ilha de São Miguel.
No Programa deste Governo este assume que "tem um compromisso com cada ilha. Todas as ilhas são importantes. Todos os açorianos contam".
No Programa deste Governo este assume um projeto que "reconhece, respeita e valoriza a identidade e a capacidade de cada ilha, como de cada concelho e de cada freguesia, fomentando a coesão territorial e social".
Ora isto foi tudo o que o Dr. José Manuel Bolieiro não fez na sua intervenção.
Nomeadamente quando endereçou "gratidão, reconhecimento, a todos os profissionais de saúde que nas unidades hospitalares, nas unidades de cuidados de saúde, nas equipas de colheita das amostras biológicas e nos laboratórios, todo o empenho que têm tido ao longo deste tempo", concretamente, "na pessoa da diretora do laboratório do Hospital do Divino Espírito Santo, a Dra. Luísa Mota Vieira", procurando expressar a todos os profissionais o reconhecimento e o apelo para "que se mantenham com o denodo e o empenho que até aqui têm demonstrado".
Ora isto em tudo favorece o que o Secretário Regional da Saúde e Desporto afirma quando diz que "o sistema de saúde funciona como células estanques e de costas voltadas".
Parece ser um governo para uns desgovernando, assim, todos.
Esta visão e postura individualista, centralista, em nada abona e em tudo contraria o suposto compromisso com todas as ilhas e o envolvimento de todos.
Agora se percebe o porquê do slogan - o Presidente "amigo".
Não havia necessidade... Foi um erro.
Um erro que veio exacerbar o que já aqui há dias o Presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia por COVID-19 havia exacerbado quando comparou e procurou justificar as diferentes situações epidemiológicas nas ilhas de São Miguel e Terceira com os diferentes comportamentos dos seus residentes.
Procurar colocar toda e única responsabilidade do evoluir desfavorável do combate a esta Pandemia no comportamento das Açorianas e dos Açorianos é injustificável.
Como diz o ditado popular, "sacudir a água do capote" em resultado da negligência da ação governativa não é correto.
Ainda para mais quando no Programa deste Governo este afirma que "é, não apenas desejável, como possível governar melhor os Açores".
No Programa deste Governo este afirma ainda que "o nosso futuro é ainda mais importante do que o nosso passado".
A verdade é que, passados estes meses de governação, para alguns membros deste Governo e para alguns deputados, o passado é mais importante que o futuro pois, em bom rigor, desejam, mas não demonstram como é possível governar melhor os Açores.
Possivelmente estão a aguardar pela "bazuca europeia", mas enquanto a mesma ainda não fica disponível, este governo vai-se "governando" entre pares, procurando dissuadir a sua inação governativa através de alguns dos seus elementos e alguns dos deputados que o apoiam, que armados com pistolas de água, ruminam e tornam a ruminar incansavelmente uma cassete, desculpando-se, insistentemente, como o faz o Secretário Regional da Saúde e Desporto quando nas suas intervenções utiliza sempre o mesmo discurso de que "este é um governo que tem dois meses de funções, em plenitude de funções apenas um mês e estamos já a trabalhar, os diferentes departamentos do governo e os vários serviços que dependem da minha tutela" ou a aludir a uma suposta "herança" que tanto os tem deixado exauridos.
Como dizia o Diácono Remédios: "Não havia necessidade"...
Do que há efetivamente necessidade é de governar a sério e deixar de governar para uns para desgoverno de todos.