Não se pode deixar passar em claro os últimos episódios do Chega.
Partido político recente, inscrito na família da extrema-direita, com um discurso agressivo, pretensamente indignado, simplificador da realidade, falsamente moralista e apelando à indignação e ao ódio. Contra o estrangeiro, o diferente, o cigano. Por cá, à míngua de conflitualidade social e da dimensão das comunidades imigrantes, resta-lhe o RSI...
O Chega elegeu nas últimas regionais dois deputados pelos Açores. A "diferença" viu-se logo: constantes arrufos, com linguagem descabelada, entre os dois parlamentares, à cata da liderança e do poder interno. Com episódios públicos e cenas tristes. De novo, só mesmo a rapidez e primarismo da luta pelo poder. De anti-sistema, o Chega só é mesmo, pelos vistos, contra a democracia. Como aliás se viu recentemente, com Ventura a abarbatar a maior subvenção pública das presidenciais, enquanto coloca cartazes contra o sustento dos parasitas dos "políticos", que vivem à custa da gente séria...
Mas a coerência é uma virtude demasiado "sistémica". Daí que não tenham qualquer pudor, nos Açores, em falar de Autonomia, quando o programa, já revisto duas vezes, nunca nela falava. E as guerras internas são resolvidas com a mão férrea de Lisboa, que resolveu fazer da "solução açoriana" arma de arremesso e chantagem entre Ventura e Rio.
Assim,só por piada se pode falar em nova centralidade do Parlamento. Ao invés, começa a ser claro que a obscuridade de alguns resultados podem diminuir a legitimidade da sua representação institucional e perverter a vontade democrática. Tal acontece, por exemplo, quando a solução ensaiada coloca-se na contingência de ser chantageada por grupinhos de três, dois... ou um!