Opinião

Abandono

Foi em dezembro de 1984 que Steve McCury, fotógrafo da National Geographic, retratou Sharbat Gula. “A menina afegã” tornou-se um ícone e uma das capas mais memoráveis da revista norte-americana. Os olhos e a expressão daquela órfã de 12 anos, a viver num campo de refugiados, contavam a história.
Hoje, volvidos 37 anos, chegam imagens da aflição de quem, de um momento para o outro, vê o “mundo” fugir-lhe e, com ele, as promessas, tantas vezes repetidas, de paz, estabilidade e segurança.
Quando partir o último avião, para trás ficará um sonho a morrer no horizonte. Abandonados ficam promessas e tantos aliados entregues a si próprios e a um destino que os seus algozes não tardarão a cumprir.
Os menos afortunados, entre os quais se contam milhões de mulheres, sofrerão as consequências. Prometeram-lhes um país diferente, mas, 20 anos depois, deixam-no mais ou menos na mesma, ou pior. Cabul, por estes dias, é a síntese do desespero, a triste ironia de um país fracassado, onde a esperança, envergonhada, acabou a fugir num avião.