Opinião

E cadê a estratégia, Senhora Secretária?

Ano escolar à porta. E o quanto, todos nós, não precisamos de que tudo se reorganize e rearrume...
Trabalho árduo, sempre, o de preparação do ano letivo, porém hoje uma brincadeira, comparadas as coisas, e desde logo pelo inevitável processo de recuperação das aprendizagens dos nossos alunos. De todos, mesmo, diria, ainda que, naturalmente, questão muito mais direcionada a uns do que a outros. Mas ninguém está a salvo. É urgente uma preparação pensada, estruturada, intencional em função do diagnóstico da situação, empirismos à parte. Foi afinal isto o que, no fundo, a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, em uníssono, formalmente recomendou ao Governo no passado mês de junho - uma estratégia regional de recuperação das aprendizagens dos alunos. E é também afinal isto que, para o território continental, o Sr. Ministro Tiago Brandão Rodrigues já lançou. Repito, já lançou. Ou seja, enquanto no passado dia um de junho o Ministério da Educação apresentava todo um trabalho maturado para o especial arranque do próximo ano letivo, a vinte e oito do mesmo mês, quase um mesinho depois, é publicada na Região uma Resolução da Assembleia recomendando ao Governo que o faça. Se faz favor, já agora, se não for grande o incómodo...
Na região, os partidos da coligação assumiram a iniciativa de o propor, e muito bem. Os partidos da esquerda não só com isso concordaram como claramente sublinharam que só pecava por tardio. Tardio, no debate em maio. E então, o que é feito? Que fez já a Secretaria Regional da Educação com tal diploma? Vinte e sete de agosto. Onde está? Que trabalho foi afinal desenvolvido? Uma promessa de reforço de recursos humanos para as escolas como de redução do número de alunos por turma. Certo. Bom. Importante. Muito, e até ver. Mas assim? Avulso, sem fundamentado propósito, sem esclarecimentos de seu enquadramento, sem qualquer espécie de estruturado e abrangente plano para o sistema educativo regional, diagnosticados os problemas, definidas as metas, traçadas e explicadas as rotas consideradas como afinal as melhores para se lá chegar? Sem estratégia, no fundo!?... Onde encontrar mais esse fantástico plano de trabalho, exposto, com a maior transparência, à vista de todas as famílias açorianas? Ou afinal não existe, mesmo, e a estratégia regional recomendada ao Governo vai assim ser entregue, de modo direto e intacto, sem que o mesmo lhe toque, a cada uma das nossas escolas? Fácil, assim, não? Mas atenção à forte argumentação da Senhora Secretária da Educação para que, simplesmente, fiquemos a ver o comboio continental a passar: a média dos resultados dos estudantes açorianos nos exames nacionais acompanha a tendência nacional (ou seja, a descida!) e, para além disso, foi na ilha onde mais tempo se verificaram medidas de confinamento - S. Miguel - que até surgiram os melhores resultados a nível regional (nalgumas das escolas, claro está, mas é só pormenor!) e em que muitos alunos (não mais do que uma representativa meia-dúzia) foram até fantásticos! Ora bem! Para quê tanto stress, pessoal?!
Diferente, substancialmente do preconizado pelo nosso Ministro. O Plano, pelo próprio apresentado em sessão presidida pelo Senhor Primeiro-Ministro, repito, o Plano, denominado de "21/23 Escola +", laboriosamente construído através de um grupo de trabalho e em parceria com as escolas, autarcas, sindicatos, forças políticas, encarregados de educação, etc., etc., envolverá um investimento previsível de 900 milhões de euros, partindo de três prioridades: "ensinar e aprender", "apoiar as comunidades educativas" e "conhecer e avaliar". "Confiamos nas escolas e por nelas confiarmos fizemos as escolhas que fizemos", disse. E nós, nos Açores? Será talvez mais assim, digo eu: "confiamos nas escolas e por nelas confiarmos deixámos às mesmas todas as escolhas e responsabilidades possíveis".
Planos, estratégias e mais projetos... E afinal, para quê?! Não é tão mais interessante o entretenimento do tempo com uns lerdaços ataques pelas redes sociais, fruto das mais aprofundadas análises aos artigos de opinião do PS, reflexões sobre os mesmos de incompreendida eloquência, desde logo porque todas elas superiormente dedicadas à medição da métrica, desenho das letras, peso ou número de gralhas encontradas...?! De um ProSucesso moribundo, a uma total ausência de qualquer plano ou estratégia para Educação, cerrada neblina descida à estrada, por onde, afinal, vamos andando, mas sem saber bem para onde.