I – Era uma vez uma geringonça?
Desde o início da atual legislatura que se percebeu que a “lua de mel política” entre a extrema-esquerda e António Costa estava em profunda crise. O tempo, em política, não é amigo do encanto. E a verdade é que 4 após a união que levou à rejeição do programa do governo apresentado por Passos Coelho e consequente substituição deste por António Costa no Palácio de São Bento, esfumou-se o dito encanto. No primeiro mandato de Costa havia, inclusivamente durante 2 anos com presença no hemiciclo, a “sombra” de Passos Coelho. A mera presença, mesmo que em silêncio, era uma “cola” para a geringonça. Nada podia ser feito ao ritmo pretendido pelos “aliados” de esquerda por causa do Senhor que orgulhosamente tinha ido além da troika. Isto era como um seguro de vida para o PS. E assim foi governando, com resultados extraordinários no domínio das finanças, quase sempre a seu bel-prazer. Nem as autárquicas de 2017, onde o PCP sofreu uma pesada derrota (perda de 10 municípios, incluindo bastiões históricos), tornaram as águas demasiado agitadas. A mudança na “relação” acontece com as legislativas de 2019. O PS é o único a crescer. O PCP sofre mais uma considerável derrota. O BE perde votos, mas consegue um resultado positivo (19 mandatos). E é aqui que começam os problemas. António Costa opta por continuar a governar sozinho. Se o PCP nunca mostrou grande abertura para integrar o executivo, o mesmo não aconteceu com o BE… E chegamos às autárquicas de 26 de setembro. Nestas, o PCP perde mais 7 autarquias e devem ter tocado todas as sinetas. Resta saber se a rutura é mesmo a sério ou continuaremos (mais 1 ano?) no atual clima…
II – Era uma vez uma manta de retalhos?
Por cá, ainda nem atingido que foi 1 ano de vida do XIII Governo e estamos como sabemos. Quase diariamente temos lenha para a fogueira. À data que escrevo, temos o deputado Paulo Estêvão, numa entrevista ao Diário Insular, a mimosear o deputado Barata. Entre diversas recuperações históricas relativamente ao percurso do deputado Barata (ex CDS; ex deputado independente), refere Estêvão que “Com o deputado Nuno Barata em jogo, estou como o outro: prognósticos só no final do jogo.” A referida entrevista termina com Paulo Estêvão, muito provavelmente de coroa colocada, a dizer aos sete ventos que está “preparado para tudo e para todas as lutas” e que “a cobardia nunca é boa política.” Em jeito de resposta, ainda que anunciada durante a última semana do plenário de outubro, tivemos, no mesmo dia da entrevista acima referida, o deputado Barata a convocar uma conferência de imprensa para dizer que vota contra o orçamento se o “governo mantiver plano e endividamento”. O deputado da IL, que há seis meses votou a favor do plano e orçamento para 2021, vem agora anunciar o chumbo de documentos que ainda nem deram entrada na Assembleia… a não ser que o governo apresente “um documento novo, refeito e reformista” onde “reduza o plano e o nível de endividamento para cerca de metade dos atuais cerca de 300 milhões de euros.” Nem 1 ano passou e a “coisa” já está assim. Não era difícil de prever, mas está a azedar muito rapidamente. Ou melhor, a desfazer-se… já que se trata de uma manta de retalhos! Resta apenas saber se rompe mesmo…