Opinião

O ministro da informação do Iraque

Mohammed Saeed al-Sahhaf, ministro da informação de Saddam Hussein, que depois viria a ser conhecido como "Baghdad Bob", ficou célebre por se recusar a aceitar, em declarações prestadas em direto à comunicação social, a tomada da cidade de Bagdade pelas forças armadas dos Estados Unidos da América.
Decorria o dia 8 de abril de 2003 e Mohammed Saeed al-Sahhaf afirmava perentoriamente perante as câmaras e os microfones dos jornalistas que "os americanos vão render-se ou ser queimados nos seus tanques. Eles vão render-se, são eles quem se vai render".
Enquanto proferia estas declarações do cimo do Palestine Hotel em Bagdade, por trás do ministro da informação de Saddam Hussein e do outro lado do rio Tigre, o céu enchia-se de fumo e eram audíveis as sirenes num incontornável e inconfundível ruído de fundo. Nesse preciso momento, as tropas americanas invadiam a cidade.
Enquanto as tropas americanas, visível e audivelmente, invadiam a cidade, Mohammed Saeed al-Sahhaf permanecia perentório: "Não há tropas americanas em Bagdade!"
O ministro da informação do Iraque negava, assim, o inegável.
No dia seguinte, Bagdade caía.
Durante semanas, o ministro da informação do Iraque foi uma das faces de um regime, numa constante atitude otimista e desafiadora face à realidade que o cercava, negando ferozmente os avanços no território pelas forças armadas americanas, ainda que estivesse perante uma contundente evidência do contrário.
Ao longo dos últimos meses, o Governo Regional dos Açores tem vindo a ser alertado e questionado para os sinais de degradação do Serviço Regional de Saúde e para as contradições e omissões entre o que é dito, anunciado e a realidade.
Desta feita, na passada semana, o PS Terceira lamentou a postura do Secretário Regional da Saúde e do Desporto que, não conseguindo desmentir a realidade, "atacou e ofendeu" a Junta de Freguesia da Vila do Porto Judeu que, cerca de 20 meses decorridos, após tentativas infrutíferas de contacto junto da tutela, clamou publicamente por atenção "para a significativa redução da assistência de cuidados de saúde primários".
Para além da exposição feita pela Junta de Freguesia da Vila do Porto Judeu relativamente à falta de médicos de família, realidade que contrasta com os anúncios realizados pelo Secretário Regional da Saúde e Desporto, o PS Terceira alertou para a consecutiva e inconsequente propaganda governativa, nomeadamente para um suposto e propalado aumento de médicos no Hospital da Ilha Terceira que o Relatório de Atividades do próprio hospital veio revelar infundada.
O Secretário Regional da Saúde e Desporto não tardou a "engendrar" uma reunião com o Conselho de Administração do Hospital da Ilha Terceira para manifestar a sua "solidariedade" e vir criticar o PS no que apelidou de "alarmismos tremendistas".
E como se não bastasse, criticou os profissionais de saúde do Hospital da Ilha Terceira que deram voz ao que se passa internamente na instituição.
No dia em que é publicada e divulgada na comunicação social esta reação do Governo negando a veracidade dos alertas realizados, nomeadamente, da falta de médicos, chega ao conhecimento do GPPS/A que dois médicos especialistas estão de saída do Hospital da Ilha Terceira.
Nos filmes de ficção costuma dizer-se que qualquer semelhança com a realidade será pura coincidência.
No caso da Saúde e deste Governo a realidade é camuflada com ficção para pura sobrevivência.
Um ministro da informação?
Não. Dispensa-se, obrigado.