Opinião

Alla Capella

Um mês depois, voltamos com as falangetas descansadas, porque para que as mãos não nos doam há que as poupar.

Neste entretanto, soubemos, à boleia do muito que se tem escrito sobre o MEDIA+, que este cantinho de jornal tem um custo que ronda o aluguer de um T4em Lisboa.

A imprensa até pode ser livre, mas não é barata.

Constatando desde já, mas não lamentando, a nossa incapacidade para o playback, porque aqui canta-se alla capella mesmo desafinando, a verdade é que ao ouvira cantoria barroca em torno do financiamento dos OCS privados, surgiu-nos, um sem-número de vezes, a questão: Pode um contrapoder ser financiado pelo poder, sem deixar de o ser?

Um clássico das discussões conjugais é o argumento "não foi o que disseste, foi a forma como disseste", que demonstra que muitas vezes a forma prevalece sobre o conteúdo e a discussão do MEDIA+ não é exceção.

É por todos aceite o financiamento público dos OCS e reconhecida a necessidade do seu reforço, ou seja, quanto ao conteúdo existe consenso, o dissenso ocorre apenas quanto à forma.

Admitimos que considerar o Jornalismo como contrapoder ou, melhor dito, como potencial contrapoder, corresponde a uma visão ultrapassada e idealista, no entanto, só partindo desta posição é possível concluir pela sua essencialidade para a Democracia, pois a esta de nada servem novos Pravda ou Völkischer.

O contrapoder do Jornalismo, de que os OCS são apenas o veículo, reside na liberdade dos jornalistas, sendo este o núcleo essencial que não deve ser condicionado pelo poder através de uma autorresponsabilização pelo pagamento direto de salários, pois como ensina o Evangelho de Mateus: "ninguém pode servir a dois senhores".

Posto isso, que se financie a 100% papel, chapa, tinta, telefonista, distribuidor, carrinhas, etc., mas que se refreie ao máximo o impulso de condicionar o núcleo essencial do contrapoder do Jornalismo, os jornalistas, para que não haja suspeita de que continua a cantar livre alla capella e não num medonho playback.