António Toste Parreira apresentou esta quinta-feira à Assembleia Legislativa dos Açores o seguinte voto de congratulação, aprovado por unanimidade, que se transcreve na íntegra:
"Voto de Congratulação
Reconhecimento da Raça Autóctone do “Pónei da Terceira”
Em ecossistemas insulares é natural observar-se a existência de animais resultantes de uma seleção genética que naturalmente se traduz por extremos: animais de grande e pequeno porte. Aos Açores também chegaram exemplos desse fenómeno.
Entre os bovinos destaca-se a raça “Ramo Grande”.
A raça Ramo Grande é uma raça de gado bovino autóctone da Ilha Terceira. Tem o nome da zona nordeste da ilha, a planície do Ramo Grande, no Concelho da Praia da Vitória, sendo a mais numerosa e de onde são provenientes os seus melhores exemplares.
Entre os equinos, destaca-se a raça (ainda recentemente reconhecida) “O Pónei da Terceira”.
O Pónei da Terceira é um animal de pequenas dimensões, mas com proporções corretas e equilibradas, confundindo-se com um puro-sangue Lusitano de pequeno porte. A sua altura inferior a 1,48m faz com que seja classificado como um pónei.
São animais rápidos, inteligentes, dóceis e de fácil maneio, e menos dispendiosos devido à sua pequena estrutura física.
Desde dos descobrimentos que o Pónei da Terceira teve um desempenho no quotidiano terceirense, nos trabalhos da terra, no transporte de mercadorias e no transporte das pessoas.
A história desta raça não é fácil de a transcrever, dada a falta de manuscritos. No entanto, há inúmeros testemunhos orais que enaltecem a inteligência, a resistência física e a capacidade de sofrimento destes animais. Este facto poderá estar associado ao fruto de uma seleção, bem como a um maior contato com o homem.
Há quem diga que, apesar de pequeno, tem alma de bravo, sendo um animal que, respeitado, faz o que se lhe pede.
Ainda hoje há quem se lembre das célebres viagens à Serreta, na semana das festas (segunda-feira da Serreta), nas carroças engalanadas e puxadas por póneis.
Com a evolução dos tempos a raça foi perdendo utilidade e importância na ilha, ou seja, com o aparecimento da mecanização agrícola e com os novos meios de transporte, os proprietários deixaram de selecionar aquele tipo de animais, o que levou à diminuição da raça.
Ainda existem alguns cavalos pequenos, mas com aquelas características é bem mais difícil de os encontrar. No entanto, os poucos que sobreviveram foram o suficiente para a recuperação do Pónei da Terceira.
Depois de um longo e difícil processo de recuperação e investigação, no passado dia vinte e sete foi reconhecida, pela DGAV, a raça autóctone – Pónei da Terceira, por despacho da Diretora Geral de Alimentação e Veterinária. Hoje, podemos dizer que a quarta raça de cavalos em Portugal é dos Açores, particularmente da Ilha Terceira.
Graças ao trabalho realizado pelo Centro de Biotecnologia da Universidade dos Açores, da responsabilidade do Professor Artur Machado, com a colaboração do Centro Hípico da Ilha Terceira, da Associação de Criadores e Amigos do Pónei da Terceira e com o apoio do Governo dos Açores. Após década e meia de muito trabalho e dedicação, eis a recompensa, o reconhecimento da raça autóctone do Pónei da Terceira.
O reconhecimento da raça foi um passo fundamental para a valorização do Pónei da Terceira. No entanto, não podemos ficar por aqui, aliás, como diz o Professor Artur Machado, para garantir a sua sobrevivência é necessário criar sustentabilidade é preciso que eles sejam uteis.
O Pónei da Terceira é um animal com múltiplas funções, algumas delas já conhecidas. Neste momento é importante explorar novas potencialidades do pónei, de acordo com a realidade dos tempos de hoje. Refiro-me à sua utilização no desporto equestre, nomeadamente para os mais pequenos, nos cuidados especiais, na área terapêutica e a médio prazo potenciar a exportação.
Segundo o Professor Artur Machado, o que distingue o Pónei da Terceira como raça é o facto de se assemelhar morfologicamente a um cavalo, mas ter a dimensão de um pónei. Lembra ainda que, mais do que garantir a sustentabilidade da raça, este reconhecimento vem também salvaguardar um património transmitido pelas gerações anteriores.
Atualmente existem cerca de cento e dezoito póneis da Terceira, sendo que a Universidade dos Açores possuiu cinquenta e quatro animais e seis foram exportados para o continente Português para divulgação da raça.
O Pónei da Terceira ainda antes do seu reconhecimento já fez história, ao receber os maiores elogios, dadas as suas capacidades. Já representou os Açores na Taça de Portugal e foi convidado de honra na Feira do Cavalo da Golegã, entre outras iniciativas.
É mais um momento importante da agricultura açoriana, sendo também uma forma de homenagear aqueles que nos antecederam e um grande contributo para a valorização do património genético dos Açores.
Aproveito ainda esta oportunidade para felicitar e dar os parabéns a todos aqueles que, com o seu trabalho, com seu empenho e dedicação, colaboraram no desenvolvimento de um projeto de capital importância para a ilha e para a Região.
Assim, ao abrigo das disposições regimentais aplicáveis, o grupo Parlamentar do Partido Socialista propõe à Assembleia Legislativa Regional da Região Autónoma dos Açores, reunida em sessão Plenária no período legislativo de 13 de fevereiro de 2014, a aprovação deste voto de Congratulação, pelo reconhecimento da Raça Autóctone do Pónei da Terceira.
Do presente voto de Congratulação deve ser dado conhecimento à Universidade dos Açores, ao Centro de Biotecnologia da Universidade dos Açores, ao Centro Hípico da Ilha Terceira e à Associação de Criadores e Amigos do Pónei da Terceira."