Opinião

Reservo a minha opinião

Ter opinião, compromete. Muitos fazem eco das críticas que ouvem “nas bocas do mundo” e no “ouvi dizer”, escondendo a sua num coro de vozes que reclamam e fazem barulho. Mas, quando chega a hora de decidir, agir ou tomar posição, optam por se refugiar numa resposta de escusa: prefiro não dizer o que penso, guardo-me para outra altura. Com este tipo de reserva, procuram estar bem com Deus e com o Diabo. Criticam mas não se comprometem, para depois dizerem, caso o desfecho seja negativo, “eu já tinha avisado que isso ia acontecer” e se as previsões não se concretizam têm sempre a desculpa que apenas queriam alertar para uma hipótese. Precisamos de pessoas firmes, que não sejam mornas ou como diz o povo, que não sejam, “nem carne, nem peixe”. Precisamos de pessoas claras, que assumam as suas opiniões. Mesmo que venham a ser derrotadas, afirmam um ponto de vista, com fundamento, não porque agora convém ou fica bem, mas porque acreditam e têm coragem para enfrentar a oposição. A verdade não é uma questão de meias tintas. Ou é, ou não é. Infelizmente, há muito boa gente, sobretudo entre responsáveis políticos, que passa o tempo a esconder-se por detrás de frases feitas, mas nada dizem; atiram as culpas para os outros e nunca assumem as suas próprias responsabilidades. Só dão um passo em frente, se isso significar “aparecer”, mas nunca se oferecem quando se trata de servir. Há muita gente, no universo da política ou das empresas, no mundo das associações ou das instituições públicas, que joga sempre à defesa e por isso usam e abusam da frase “reservo a minha posição” até sentirem que há uma onda maioritária que lhes pode garantir a vitória. Não comparando, é como alguns que são sempre adeptos do clube que está em primeiro lugar. Gostam de estar ao lado dos que ganham ou dos que poderão vir a ganhar, mas nunca se preocupam em defender causas, valores ou princípios. Ninguém pode contar com esses para uma luta de minorias, para defenderem uma causa aparentemente perdida, por uma posição que não colhe favores ou apoios. A reserva de posição pode ser um sinal de cobardia, de falta de coragem e de solidariedade. Uma forma de protecção dos interesses de quem não se compromete publicamente com quase nada, joga à defesa e só avança para o golo, quando a baliza está aberta e seria muito azar a bola não entrar. A vida é um jogo, onde se perde e se ganha, mas onde valem aqueles que procuram lógica, sentido e razões de viver e que lutam por isso, quantas vezes pagando o preço da própria vida. Fala-se hoje muito de cidadania e realmente é urgente educar os mais novos no sentido de descobrirem que todos, e cada um em particular, devem deixar uma marca neste mundo, mesmo que pequenina; eles podem fazer a diferença. Prescindir disso é passar pela vida, como “água em folha de inhame”. Não molha, não deixa marca e ninguém um dia recordará. Vale a pena tomar posição, dizer o que se pensa, lutar por aquilo em que se acredita, mesmo que isso implique reconhecer que se errou, falhou ou não se fez tudo como devia ter sido feito.