A República está em crise. Qual é a novidade? Sempre esteve. A crise é económica. Será só? Claro que não. É sobretudo e acima de tudo uma crise de valores e de liderança, melhor dizendo, de falta de liderança. Houve excepções, claro que houve. No pós 25 de Abril, só me lembro de uma. O Governo liderado pelo Dr. Mário Soares que negociou a intervenção no País do Fundo Monetário Internacional e nos levou a entrar na então Comunidade Económica Europeia. A capacidade, seriedade e prestígio do Líder são fundamentais para a auto-estima e afirmação de um povo como se pôde constatar pelo facto de que sem o prestígio pessoal do Dr. Mário Soares, a data de entrada de Portugal na CEE teria sido outra.
Falar do pós 85 pouco mais é do que lamentar as oportunidades perdidas e os erros cometidos. A falta de cultura de responsabilidade que levou a que privilegiassem as carreiras pessoais e o clientelismo político-partidário em detrimento da modernização económica e do desenvolvimento social do País assente na ideia absurda de que a economia continuaria a crescer a ritmos que permitissem cobrir a incompetência dos seus erros, deu no que deu.
Como escrevi neste jornal em 9 de Novembro de 2008, a crise e os seus efeitos há muito eram ou conhecidos ou previsíveis; acontece, porém, que as visões centradas em interesses exclusivamente pessoais, partidários e incompetentes conduzem a análises estáticas, limitadas às complexidades presentes, afastando-nos cada vez mais das oportunidades futuras.
O PEC3 é mais do mesmo. Exige-se tudo a quem trabalha sem que se tenha a preocupação de usar, de forma séria e racional, aquilo que se exigiu. É claro que o incumprimento, por parte dos governantes, das mais elementares regras de rigor e seriedade levam a que os portugueses pensem, com toda a legitimidade, que os principais actores políticos nacionais são irresponsáveis.
Acredito que as medidas agora tomadas são, no momento, as únicas possíveis mas, apenas e só porque em devido tempo outras não foram tomadas. Quem regularmente acompanha a comunicação social, nacional e internacional, sabe que avisos não faltaram. Acontece porém que como afirmou Henrique Neto, ″os nossos governantes não sabem da importância de ouvir os críticos, que é uma qualidade que está apenas ao alcance dos estadistas ″.
Mas pior que tudo isto, muito pior, é que não se vislumbra luz ao fundo do túnel. Não há no horizonte nenhum D. Sebastião e, a menos que aconteça algum milagre, coisa em que não acredito, será mais do mesmo já que, como todos percebemos nas maneiras, atitudes, gestos e tomadas de posição, o Dr. Pedro Passos Coelho mais não é do que um clone do Engenheiro José Sócrates.