Opinião

Uma central que deixou de o ser

É importante que os cidadãos de Ponta Delgada saibam os reais motivos porque a presidente da câmara anunciou que a Central de Camionagem, na Rua de Lisboa, deixou de ser uma prioridade para a autarquia. A câmara não desistiu do projecto, aparentemente adiou porque os tempos são de crise e a autarquia quer privilegiar outros investimentos, onde possa beneficiar de fundos comunitários. Estranho! Adia-se um investimento, por razões financeiras, não obstante publicamente nunca ter sido quantificado. Deixou de ser uma prioridade construir a central, mas será que desistiram deste projecto na Rua de Lisboa? É importante reafirmar que os cidadãos que se manifestaram, inclusive através do exercício de petição, consideraram importante a existência de uma estrutura de coordenação para o transporte colectivo de passageiros, num caso a favor, noutro contra a localização proposta, que faria da avenida Roberto Ivens, um corredor para autocarros. Recorde-se que, em tempos, foi pensada uma expansão desta artéria para norte, no terreno que agora se pretende ocupar. “É uma decisão política”, afirma a presidente da Câmara, para calar as vozes de protesto contra um projecto que, até hoje, nunca foi suportado em estudos técnicos. Mas para que conste, recorde-se que foi a câmara que sugeriu ao promotor privado integrar uma central de camionagem no rés-do-chão de um edifício de habitação e comércio, o que implicou a alteração do projecto de arquitectura. Teve azar o empresário, porque o empreendimento ganhou mais pisos e deixou de respeitar os critérios que as leis de protecção do património exigem, para uma zona que fique a menos de cinquenta metros de um edifício classificado, como é o Coliseu Micaelense. Entretanto, passados vários meses, a autarquia afirma que já não lhe interessa esse espaço, porque, como referiu a presidente da câmara, “o governo da República deve dinheiro á câmara”, reutilizando a mesma justificação que serviu para explicar porque não foram feitas as transferências para as juntas e que irá servir, certamente, para justificar outros projectos que não venham a ser concretizados! Se a câmara considerou a construção da central de camionagem na Rua de Lisboa, uma oportunidade para dinamizar uma zona onde faltam incentivos aos comerciantes e que tem perdido moradores, o que vai fazer agora que desistiu do empreendimento? Desiste também das pessoas que moram naquela zona? Será que não há criatividade suficiente para dinamizar o comércio tradicional e fixar mais habitantes no centro histórico, sem ter de gastar milhões numa qualquer construção de betão? Criatividade até existe, foram feitas propostas pela oposição, liminarmente rejeitadas pelo executivo camarário. Não são de cimento ou alcatrão, nem podem ser inauguradas com placas. Exigem que se ouça as pessoas que, realmente, vivem com dificuldades e estão prestes a desistir de morar ou de fazer negócio no centro da cidade, onde se sentem inseguras e abandonadas. Pessoas que, neste tempo de Natal, esperam da autarquia, mais do que passadeiras vermelhas nos passeios e enfeites de ráfia e luzes nas árvores.