Opinião

O que fizeram de ti, Ponta Delgada

A revitalização do comércio do centro histórico de Ponta Delgada tem sido ao longo dos últimos anos, nomeadamente a partir da abertura das grandes superfícies comerciais, tema de análise por parte dos maiores interessados na matéria. Apesar das mais diferentes opiniões emitidas, quer pela Câmara do Comércio quer pela novel agremiação de comerciantes do centro da cidade, pelos partidos políticos e por cidadãos das mais diversas linhas de pensamento, ainda não foi encontrada e aplicada uma solução que traga os cidadãos à baixa citadina. Como nado no centro da cidade na década de cinquenta e criado no coração desta velha urbe, muitas vezes ainda recordo a vida que Ponta Delgada possuía nas últimas décadas do século XX. É fácil diagnosticar algumas das causas que conduziram a cidade a um autêntico deserto em termos residenciais. A febre dos serviços – banca, seguros, escritórios, consultórios e afins – resultantes do crescimento económico, encarregaram-se de expulsar os moradores do centro para as periferias, pois a oferta para arrendamento e/ou venda de imóveis disparou em flecha e, consequentemente, houve um êxodo significativo dos moradores. A Rua do Açoriano Oriental, aonde nasci e vivi até á maioridade, era habitada por diversas famílias e apesar de passadas quatro décadas, recordo que só crianças, éramos para aí mais de uma de uma dezena e meia (3 Cosme, 4 Aguiar, 3 Sardinha e 6 Bulhão Pato). Hoje, após o falecimento do meu pai, há dois anos, penso apenas haver uma única habitante resistente a viver naquela rua! À semelhança do sucedido nessa artéria situada no coração da cidade, coladinha aos Paços do Concelho, o mesmo se verificou em quase todas as ruas de Ponta Delgada. O centro de uma cidade, outrora alegre e com muita vida, passou a encerrar de segunda a sexta a partir das 18 horas e ao fim-de-semana às 13 horas de sábado! Hoje, Ponta Delgada é um autêntico deserto. Ainda há cerca de um mês decidi, após o jantar, ir dar um passeio a pé pelas ruas comerciais da cidade (Marquês da Praia, Machado dos Santos, António José d ’Almeida, Valverde, etc.) e acreditem que fiquei completamente desolado! Apesar de pouco passar das nove da noite, nem vivalma se avistava… apenas alguns, poucos carros a circular e se me cruzei com mais de meia dúzia de pessoas, foi o muito… O que fizeram de ti, minha velha cidade, triste, desértica e abandonada! Cabe ao governo da cidade, ou seja à Câmara de Ponta Delgada, incentivar o regresso da população ao centro, criando condições atractivas de facilitação de estacionamento gratuito para os moradores, de redução de taxas municipais aos proprietários que pretendam alugar imóveis para fins habitacionais, bem como a isenção ou redução do montante a pagar de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis) durante o período em que dure o arrendamento. Não bastam os manifestos de intenção. Há que tomar medidas concretas e passíveis de boa aplicação. Pela parte do Governo já existem medidas concretas e reais de apoio ao arrendamento no denominado programa “Famílias com Futuro” que proporcionam um auxílio mensal significativo aos cidadãos que pretendam, através do arrendamento, ver resolvida a sua situação habitacional. Resolvendo os problemas das pessoas, poderemos devolver a vida à nossa velha, triste, desértica e abandonada cidade!