Opinião

O coelho e a cartola

Passos Coelho não é o candidato por quem o PSD esperou. Com um ar de menino de coro prometeu uma corrida de fundo para a qual não tem fôlego. Miguel Relvas faz o que pode, desdobra-se em esclarecimentos e auxílios prontos, mas Passos apressa-se a defraudar as expectativas do seu mais próximo ajudante. O momento político ofereceu de bandeja um repasto que o ex-jovem laranjinha soube arruinar. As sondagens confirmam-no. Este momento não se repetirá. E Passos sai chamuscado. Pelos erros sucessivos. Pela postura frouxa. Pela abertura aos independentes que fez revolver os intestinos aos militantes mais distintos. Passos Coelho escondeu as suas propostas dos portugueses para consumo posterior. O que resulta disso é que apenas se sabe que há um plano de desmantelamento do estrado social que se suspeita por onde caminha, mas que não se assegura. As incertezas fazem dele e das suas decisões uma espécie de anti-herói. O último de quem o país poderia precisar neste momento. Porque se esforçou por demonstrar à saciedade o tecido de que são feitas as suas convicções, a inabilidade de que se serviria se chegasse a primeiro-ministro, e a sufocante hesitação nas decisões. Entre um céptico e um determinado quem devem escolher os portugueses? Não há na nova esperança do PSD senão tiros em ricochete e aflições de última hora. Passos Coelho já demonstrou aquilo de que é capaz. E não é surpreendente. Esta é uma corrida de fundo que não conseguiria disputar. Porque se perde nos pormenores, tropeça nos Nobres que escolhe para colocar no seu próprio caminho e vive acima das suas reais possibilidades. Dentro do partido faz-se baixinho o que acontece nestes casos: prepara-se o próximo. Todos esperavam de Passos Coelho o que ele demonstrou já não ser capaz de dar. Os portugueses não sabem ao certo o que pensa, mas pressentem o ultra-liberalismo duma agenda que ele não parece querer deixar cair.