As oposições políticas na Europa têm, também, contribuído para a falta de soluções para a crise que atinge vários países. Quase sempre, na tentativa de derrubar governos legitimamente eleitos, preferiram alinhar no discurso populista dos “cortes nas gorduras dos Estados e dos privilégios”. Ninguém nega que há abusos no sistema e que devem ser corrigidos, mas o facto é que seu significado é diminuto, o que obrigou aos dirigente políticos, por motivos práticos de corte na despesa e aumento da receita, a que se fosse descendo progressivamente na fasquia do que é o “privilégio” e do que são “direitos em excesso”, acabando por cortar nos salários e nos direitos laborais dos mais frágeis e desfavorecidos.
Este discurso do “corte na gordura”, pode e deve ser feito tendo em conta alguns excessos que foram recentemente conhecidos, com moderação, mas nunca poderá estar desligado da necessidade de implementação das reformas estruturais e estratégias novas para o crescimento da economia.
Nos Açores, o principal partido da oposição não foi diferente. Quase como se seguisse um guião feito por Passos Coelho e Miguel Relvas, aquando das últimas eleições Legislativas, recusa o diálogo produtivo com o Governo e com o PS sobre medidas para tentar amenizar os efeitos da crise. Fala apenas do corte de despesas de comunicações deslocações e estadas e de cortes nas empresas públicas como se tivessem algum significado orçamental e económico.
É o que eu chamo de demagogia pura, de irracionalidade de propositura e de falta de contexto sobre a situação em que vivemos.
Será que Berta Cabral sabe que estes cortes propostos significam cerca de 0,25% do Orçamento da Região, em 2012, em rubricas que têm progressivamente vindo a ter o seu valor reduzido significativamente? Será que sabe que a maior parte das despesas com comunicações estão relacionadas com redes informáticas e dados e que cortar nesta rubrica poderia fazer regredir a Administração Pública quase à situação de papel e caneta? Será que sabe que as despesas de funcionamento da Administração Pública têm vindo a diminuir e que o Governo dos Açores está a proceder a uma restruturação profunda no seu sector empresarial, que passa por fusões e alienações de mais de 20 empresas? Será que o PSD/Açores sabe que, nos Açores, nenhum gestor de empresas públicas ganha mais do que o Presidente do Governo, ao contrário do que acontece no continente?
É esta insanidade ambiciosa de muitos protagonistas políticos de olhar para o acessório, em detrimento do diálogo profícuo, de pensar e discutir o que está de errado no nosso sistema económico e social, que levou a Europa à situação em que está.
Esta sucessiva repetição de argumentos e de propositura políticas estafadas faz-me lembrar uma frase de Albert Einstein, escrita também numa altura de crise económica, que se aplica muito bem à situação em que vivemos: “Não há nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa dia após dia e esperar resultados diferentes”.