Opinião

Eclipse em Ponta Delgada

A escuridão tomou conta do centro histórico. Não, não foi a iluminação pública que se apagou, até porque na maioria das vezes é inexistente. Foram as montras que se apagaram. Não, não foi por poupança. Apagaram-se, fecharam-se lojas. Não é de hoje, nem de ontem. É já de algum tempo. Na última década, Ponta Delgada foi atingida como por um meteorito, que caiu no centro histórico e afastou tudo e todos. A estratégia em Ponta Delgada, no auge do crédito bancário às famílias e empresas, não existiu. Perdeu-se a oportunidade de incentivar “a vida” no centro histórico. Preferiu-se engordar os cofres camarários com taxas; licenças e contrapartidas resultantes de novos loteamentos. No momento de escolha, com o poder de compra que existia, os munícipes optaram e não foi pelo centro. Como podiam? Até taxa de estacionamento os moradores pagam!? Perdeu-se tempo. Perderam-se oportunidades. Porque não se isentou e reduziu o IMI em imóveis no centro histórico, antes do abandono? Agiu-se tarde. Haveria que saber actuar por prevenção criando alternativas locais. Em 2007 já dizia a Dra. Berta Cabral “é necessário travar a saída de algumas famílias do centro histórico e inverter esta tendência”. Eu não vi nenhum travão, nem nenhuma inversão. O que vi e vejo é marcha à frente, para fora do centro. Completou-se no dia 31 de Outubro dois anos sobre o encerramento da campanha para o centro histórico “É bom renovar um sonho antigo” (REVIVA), apetece dizer, será bom, não será? O comércio de rua precisa de um apoio concertado e pedagógico, entre Câmara Municipal de Ponta Delgada (CMPD) e Câmara do Comércio/comerciantes. Foi apresentado o REVIVA como se de um plano estratégico se tratasse. Faltou precisamente a estratégia, ficou-se pela rama. Crie-se o “cartão do comércio tradicional” e uma rede de lojas aderentes; ofereça-se estacionamento gratuito aos portadores do cartão; elabore-se uma newsletter dirigida aos comerciantes contendo datas e eventos importantes a acontecer na cidade; adapte-se os transportes públicos; isente-se as esplanadas. Estas propostas fazem parte de um plano de 25 medidas que o PS/Ponta Delgada apresentou na CMPD em Outubro de 2010 (http://dl.dropbox.com/u/2102642/PS-PDL_Programa_Recuperar.pdf). Todas rejeitadas! Acolha-se propostas de cidadãos, que de forma livre, sugeriram na rede social Facebook: ”Dia da semana com comércio até às 21h00”;”Evoluir o comércio tradicional e estruturas de suporte”;“ Horários adaptados aos clientes”;“Animação de rua e cinema ar livre”; “Feiras temáticas”;“Nós, os comerciantes temos que nos unir” e “Instalação de serviços e repovoamento”. A tão necessária elaboração de plano de pormenor de salvaguarda do centro histórico para disciplinar construções e requalificações. O mais recente terrível exemplo da falta de olhar sobre o património e sua salvaguarda, foi a permissividade com que se assistiu à demolição da fachada do séc. XVII na rua da Misericórdia. Nunca se pensou no território. Pensar o território é , se não o mais importante, integrar neste o que se têm com o que se perspectiva, mas na lógica de preservar e não de destruir. A Presidente de Câmara não criou mecanismos de salvaguarda do centro histórico, não apoiou os comerciantes e não criou condições para os moradores. Os clientes estão para o comércio de rua, como a Presidente de Câmara para o seu local de trabalho. Ausência total. P.S (D). Digitalizem o recibo do subsídio de férias de 2011, o de Natal de 2010 e de 2011. Emoldurem. Aos nossos filhos e netos “ Eu sou do tempo que se recebia subsídios de férias e Natal. Eu também sou do tempo em que estes passaram a 50% e depois apenas para sonho de Natal”