O tempo invernoso com que temos sido brindados nos últimos dias, convida ao calor da lareira após o degustar do inigualável sabor de uma sopa de feijão enriquecida com chouriço picante da Ribeira Grande, batata, couve, repolho e uns manteiguentos minhotos da Bretanha a que se segue uma alegre e descontraída brincadeira com os netos.
Em alternativa, seria escutar as estafantes, tristes, revoltantes e enfadonhas barbaridades debitadas por alguns senhores que, por vontade do povo, que não a nossa, assumiram os destinos do país e se autopromoveram em comissários liquidatários dos nossos direitos.
Estamos fartos de Duques e Relvas que corporizam o centralismo de uma ressuscitada metrópole que olha os ilhéus como portugueses de segunda e imaginam, como possíveis, recuos às décadas que antecederam o 25 de Abril de 74 do passado século.
Já não há pachorra para escutar barbaridades acerca da primazia de Lisboa sobre as “colónias” e os colonizados que alguns saudosistas introduzem, com a maior desfaçatez, no discurso político.
Em relação à televisão dos Açores e às doutas conclusões de Duque e seus sapientes acólitos, que afirmam já haver aquela estação cumprido a sua missão histórica e, por conseguinte, deveria encerrar as portas, não conseguimos, por maior esforço que façamos, atingir tão elevada linha de pensamento que conduz a tão triste conclusão.
Gostaríamos de perguntar se, tão nobre e ducal comissão liquidatária dos canais regionais, alguma vez falou com os legítimos representantes dos açorianos ou com os dirigentes e trabalhadores da RTP Açores numa tentativa de perceber a real importância da existência daquele canal para os açorianos, residentes ou não na Região.
Será que suas eminências conhecem a realidade arquipelágica dos Açores?
Desconfio que alguns deles nunca pisaram o solo destas ilhas de lava e bruma!
Pelas conclusões a que chegaram, pensamos ser lícito concluirmos nós que aqueles senhores deverão ter cumprido escrupulosamente a missão que lhe foi confiada, ou seja arrasar com o serviço público da televisão nos Açores.
O senhor ministro Relvas, soube afirmar que nos Açores e na Madeira existem cerca de 300 funcionários na RTP e que ambas as estações têm um custo anual de cerca de 23 milhões de euros. Não soube esclarecer que os Açores são nove ilhas que, para além dos estúdios de Ponta Delgada, existem delegações na Terceira e no Faial e correspondentes nas restantes as ilhas.
Esqueceu o senhor ministro Relvas, que a RTP Açores alimenta, com produção própria, larga percentagem da sua programação e da RTP Internacional cuja maioria dos telespectadores, nos Estados Unidos e no Canadá, são açorianos e seus descendentes.
Esqueceram os sábios e o senhor ministro Relvas que a televisão açoriana tem produzido e realizado as melhores séries de ficção portuguesa, muitos delas com a assinatura do Mestre José Medeiros, a partir de textos de ilustres escritores açorianos e que mais não produz porque lhe não conferem os necessários meios?
Será que na análise economicista levada a cabo por tão doutos pensadores e contabilistas, foram tidos em conta os proveitos auferidos pela RTP Metrópole, em taxas de audiovisual cobradas aos açorianos ou em publicidade que venderam para ser incluída nas transmissões do canal regional?
Mais do que os ataques à nossa televisão e das declarações de que quem nela manda é Lisboa, preocupa-nos cada vez mais as sucessivas acções que corporizam um feroz ataque à Autonomia dos Açores!
Perante tal cenário, só nos resta perguntar: - Aonde pára o Senhor Presidente da República que deverá ser o garante do cumprimento da Constituição e, por consequência, da autonomia constitucional?
Com o frio que está… certamente à lareira a brincar com os netos!