O debate do Plano e Orçamento, que decorreu na última semana, foi bem esclarecedor do que se pode contar do maior partido da oposição – o PSD/Açores. Vamos a factos: o PSD/Açores anunciou, nos últimos meses, que iria apresentar cortes nas supostas “gorduras” da Administração Regional, de 20 milhões de euros.
Insistiu neste valor até à exaustão. Depois, na prática, apresentou propostas, no total, com cortes de 5,5 milhões de euros. Podia ter refeito as propostas de alteração ou mesmo ter corrigido o discurso.
Ficava-lhe bem. Não fez nada disso.
O PSD/Açores achou que era preferível enganar os açorianos ao dizer-lhes que queria cortar 20 milhões, mas na verdade apresentar propostas de 5,5 milhões.
Em boa verdade não havia todas essas “gorduras” para cortar. De uma assentada, numa esperteza saloia, queria enganar as pessoas e o Parlamento. Durante o debate, o Governo Regional e deputados de vários partidos insistiram que a bancada do PSD/Açores explicasse as suas contas. Atrapalhado, confuso e sem nexo, o PSD lá recorreu à Conta de 2010 para explicar uma proposta de alteração ao Orçamento de 2012. Mau politicamente e pior ainda tecnicamente.
Tudo isso é factual. Outro episódio marcou o debate: o líder parlamentar do PSD/Açores insinuou que um membro da Administração Regional tinha gasto quatro mil euros num telemóvel. Como é óbvio, a insinuação deixava a suspeita no ar perante dezenas de pessoas.
Por isso, foi insistentemente pedido ao PSD/Açores que concretizasse a insinuação. Foi pedido mesmo até ao limite. Mas nada. Faltou a coragem para assumir as insinuações e, cobardemente, tentou desviar o debate para outro assunto. A falta de coragem que faltou ao líder parlamentar do PSD/Açores sobrou ao secretário regional da Economia, que explicou que este valor tinha explicação no Roaming durante uma deslocação ao estrangeiro. Que, não satisfeito com este valor, mandou alterar o tarifário. Que este valor se referia ao gasto de 11 telemóveis do seu gabinete. Sim, 11 telemóveis.
O líder parlamentar do PSD/Açores poderia ter solicitado esclarecimentos sobre esta situação se tivesse tido a coragem de concretizar a insinuação que fez. Mas não, deixou no ar a suspeita, nunca concretizada, mesmo depois de ter estado, durante largos minutos, a ser censurado por deputados de vários partidos.
Não saber fazer contas é mau, mas é uma questão técnica. Fazer insinuações levianas, não pretender o esclarecimento e deixar no ar a suspeita, é muito mais grave, porque entra no campo da ética.
Lamento profundamente referi-lo, mas foi um momento reprovável de falta de dignidade e de enorme cobardia política.