A lei não obrigava, mas Vasco Cordeiro, candidato do PS/Açores à Presidência do Governo Regional, decidiu deixar a Secretaria Regional da Economia, em nome da ética, da verdade e da confiança com que quer continuar a pautar a sua acção política até às eleições de Outubro.
Na verdade, Vasco Cordeiro poderia aproveitar o palco que o cargo de Secretário Regional lhe garantia para aumentar a sua projecção mediática, já que a lei permite que se mantivesse no cargo e fosse, simultaneamente, candidato pelo Partido Socialista.
Só que, para Vasco Cordeiro, a acção política é muito mais do que o cumprimento da lei. É, acima de tudo, uma questão de ética, de responsabilidade e de confiança. Esta decisão pessoal introduziu, assim, um importante factor de transparência na campanha eleitoral e prova que é possível, nestes dias em que a política está descredibilizada, enobrecer esta actividade com atitudes e não só com palavras de circunstância.
Quanto ao PSD/Açores, todos nós já percebemos quando a sua candidata vai deixar a Câmara Municipal de Ponta Delgada. Ou seja, vai utilizar ao máximo a projecção que esta autarquia lhe confere com o objectivo de retirar dividendos para a sua campanha. Todos nós até sabemos qual o momento que Berta Cabral vai escolher para sair da Câmara. Até lá, vai apostar na confusão deliberada entre os cargos que desempenha, num percurso perverso para a democracia e totalmente contrário ao escolhido por Vasco Cordeiro.
A Presidente da Câmara de Ponta Delgada mantém, assim, a sua estratégia de utilizar ao máximo todos os palcos que dispõem para tentar ganhar votos. Tenta, desta forma, compensar com quantidade o que lhe falta em qualidade no projecto político.
Em bom rigor, a lei só obriga que Berta Cabral deixe a Presidência da Câmara a partir da apresentação formal da candidatura. Também neste caso, não se trata de uma questão de legalidade. Trata-se, sim, de um caso de ética política.
Ou se tem ou não se tem.
Como diz a própria Berta Cabral, cada um escolhe o seu percurso e o seu calendário. Vasco Cordeiro optou pelo percurso da ética e da responsabilidade.
Berta Cabral optou por manter um calendário de confusão entre cargos.
Antes do Verão, pode ser que as Festas do Espirito Santo ajudem a resolver esta questão em Ponta Delgada.