Durante vários anos, devido a funções partidárias que desempenhei, lidei de perto com a realidade educativa e laboral dos jovens portugueses.
Uma área de grande complexidade mas de enorme interesse, cuja evolução tem uma influência gigantesca no futuro de qualquer sociedade.
Dizer que o futuro é dos jovens ou que os jovens de hoje são a geração mais qualificada de sempre não são um cliché ou conversas de circunstância que ficam bem em qualquer discurso. São factos e verdades inquestionáveis.
Mas a importância que um Governo dá a esta faixa etária e a forma como define a sua participação e corresponsabilização nas decisões sobre o futuro da sociedade, mostram a sua ambição e visão estratégica de médio prazo.
A este propósito, uma das maiores indignidades políticas da nossa história recente foi protagonizada pelo Primeiro-Ministro de Portugal e alguns dos seus Ministros quando sugeriram que os jovens e algumas classes profissionais deveriam procurar oportunidades de emprego no estrangeiro.
Promover a saída de Portugal do nosso mais importante ativo, no desempenho de funções de enorme responsabilidade política, é bem demonstrativo da pequenez que tolda a visão de futuro de quem governa o nosso país atualmente.
Numa tentativa de reescrever a história, veio o Sr. Primeiro-Ministro dizer que era um “mito urbano” afirmar que alguma vez teria sugerido a emigração dos jovens portugueses.
Mas Passos Coelho não consegue apagar o passado. Fê-lo não só por palavras, coadjuvado em vários momentos por outros Ministros de má-memória como Miguel Relvas, como fê-lo implementando uma agenda politica muito além do que mandava a Troika, retirando confiança e esperança aos cidadãos e empurrando milhares de jovens portugueses para um futuro sem perspetivas, onde a única saída foi abandonar Portugal.
Dizer agora, em tom jocoso, que isso se trata de um “mito urbano” é tão grave quanto lamentável.
Saíram de Portugal milhares de jovens. Abandonaram as suas famílias, os amigos, a sua Pátria. Muitos não voltarão tão cedo. Outros nunca voltarão. Perdemos gente de grande qualidade e mérito, que está a gerar riqueza e crescimento noutros países. Regredimos vários anos com este fluxo emigratório.
Isso nada tem de mito urbano. É a dura realidade que nos deve entristecer a todos e que nos deve levar, sobretudo aos jovens, a penalizar fortemente Passos Coelho e a sua agenda política que não acha relevante que os jovens portugueses fiquem em Portugal, quando essa é a sua opção de vida.