Opinião

Lembranças úteis

Hoje, mais que nunca, é bom relembrarmos algumas das afirmações do atual Primeiro-Ministro, antes de o ser. Dentre as pérolas com que Passos Coelho nos brindou então, rezava o seguinte: “Estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe em país a pão e água por precaução.” “Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar o futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa.” “Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias.” “Vamos ter de cortar gorduras e poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos.” “Ninguém nos verá [ao PSD] a impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos.” “Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado.” “Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas.” “A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos.” “A austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento.” Estes são apenas pequenos exemplos de uma lista muito longa de afirmações proferidas por Passos Coelho em ambiente de campanha eleitoral, antes de ser Primeiro-Ministro. E é sempre bom termos a memória fresca sobre o que foram afirmações rotundamente viciadas pela mais absoluta mentira demagógica. Não precisamos ir muito longe para confirmar que Passos Coelho prestou um mau serviço a Portugal: neste período de tempo de governação do PSD, Portugal foi o país em que mais aumentou o risco de pobreza e exclusão social em 2014 (em cerca de dois pontos percentuais), seguido imediatamente pela Grécia. Portugal, apesar de toda a carga de austeridade que foi imposta sobre os portugueses, tem a segunda maior dívida pública em comparação com o PIB (128%) logo a seguir à Grécia (174,9%). As famílias portuguesas continuam a sofrer graves dificuldades económicas, que nem o fogo-de-artifício lançado à volta de uns débeis sinais de recuperação económica pode disfarçar. A nível de taxa de risco de pobreza, regredimos cerca de dez anos, a valores semelhantes a 2004. Relativamente a estes factos, ouvimos muito pouco do PSD nos Açores. Não compensa falar do que vai mal no país para não abanar muito a palmeira. No entanto, já se apresentaram os candidatos às próximas eleições legislativas. E o que a cabeça-de-lista do PSD pelos Açores, Berta Cabral (ou a Yes Mam de Passos Coelho, o efeito é o mesmo) teve para oferecer aos Açorianos como justificação para toda a carga de austeridade que foi imposta aos Portugueses foi que o Governo da República tinha feito tudo o que podia em condições difíceis. Começa bem. Dizer “coitadinho do Passos, que não podia fazer mais do que espoliar os portugueses, não se zanguem muito com ele”, é exatamente imagem daquilo que os Açorianos precisam com assento na Assembleia da República… Por uma cruz no quadradinho deste PSD de Passos, Berta e Duarte Freitas é dizer “sim” a mais do mesmo saque aos direitos dos portugueses. É confirmar que se deseja continuar com políticas de austeridade que minam rendimentos, que assaltam pensões e é dar um voto de confiança a quem mandou os jovens portugueses para fora do país e que agora tenta disfarçar com um “não foi bem isso que eu disse”. Mas com uma afirmação de Passos Coelho estou absolutamente de acordo. Dizia ele há uns anos atrás: “Como é possível manter um Governo em que o Primeiro-Ministro mente?” Não deve ser. Digo eu.