Opinião

A (des)união Europeia

Parte Grega Não sou um grande adepto do Syriza, um partido muito diferente do Partido Socialista português, nem das suas bandeiras eleitorais, nem do seu estilo mediático/populista, mais próprio de estrelas de cinema do que que um partido de Governo, e confesso que me causa alguma impressão a sua coligação com um partido nacionalista. Mas na verdade, o Syriza é, agora, - quer a União Europeia queira ou não – o partido que, com um mandato legítimo e democrático claro do povo Grego, suporta o Governo grego. Não há um Governo do Syriza! Há um Governo grego soberano, com a mesma legitimidade de qualquer outro governo da União Europeia que deve ser respeitado. O jogo que temos assistido nos últimos dias, das negociações entre os parceiros europeus e a Grécia, tem sido tudo menos um diálogo sincero cingido à dívida e viabilização da economia grega. Sim! Infelizmente está em causa uma demonstração de força bruta dos parceiros europeus perante o povo grego por este se ter ousado revoltar perante o modelo de austeridade que lhe foi imposto, e um aviso sério aos outros países do sul para se manterem na linha do que dita a Alemanha. De pouco interessa se as pretensões gregas são justas ou não - e acreditem que as encontrei para todos os gostos - ou saber que as medidas da troika estraçalharam a economia helénica e o seu povo, como exemplificam estes dados: 25% de quebra no PIB; 52% dos jovens não têm emprego; 45% dos aposentados são pobres; 40% das crianças vivem abaixo do limiar pobreza; e, 200 mil funcionários foram despedidos. Interessa sim, manter um jogo imbecil que humilhe e ajoelhe a Grécia o tempo necessário para produzir efeitos de vacina perante todos, mas com a precaução suficiente para que não produza a rotura indesejável de saída da moeda única que, aí sim, poderia, perigar toda a economia europeia, nomeadamente o setor bancário alemão. Para este propósito, a Alemanha conta com os dois governos ibéricos, em pleno período eleitoral, dispostos a assumir o papel do “polícia mau” na Grécia. Os governos ibéricos anseiam pela humilhação grega para que a possam confundir, deliberadamente e de má-fé, com as alternativas políticas responsáveis nos seus países. Parte tudo Ao que parece, o primeiro-ministro italiano teve um momento de fúria, justificado pela falta de solidariedade dos seus colegas europeus, em acolher requerentes de asilo chegados a Itália e à Grécia do norte de África. Dizia que: “Se não houver acordo sobre o número de 40.000, então vocês não são dignos de se chamar Europa”. Este momento de tensão demonstra bem o estado atual de desagregação da União Europeia. Neste momento impera o interesse nacional sobre a solidariedade europeia. Não há a perceção de que um problema de um país, a prazo, necessariamente afetará todos os seus vizinhos. Esta fraca gente que nos dirige, rapidamente e arrogantemente, esqueceu que incorrer nos mesmos erros leva à repetição da história e, que foi uma Europa de nações assimétricas, que procuravam o seu espaço vital, que nos levou à guerra e ao caos económico há pouco mais de 70 anos.