Opinião

Acham-me parecida à Sec. de Estado?

I. As eleições são, por definição, um momento de viragem. A fixação convencionada de uma data para um determinado ato eleitoral marca, em simultâneo, um fim e um princípio. Mesmo assim, isso não quer dizer que quem se apresenta a eleições deixe de existir para começar a existir de novo. Assim é o caso da Senhora Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional. Enquanto parte do Governo de Passos Coelho e perante as Legislativas Nacionais do reinício do ano político, está a esfumar-se, na justa medida em que os açorianos se possam esquecer que deu o dito por não dito e que, depois de se achar muito diferente de Passos Coelho, passou a achar-se parte empenhada no esforço de governação do país. Enquanto cabeça-de-lista do PSD pelo círculo eleitoral dos Açores, por outro lado, é toda uma nova promessa, repleta de causas e ideias, de projetos e revindicações, como se nunca tivesse sido Secretária de Estado de Passos Coelho e da Defesa deste país indefeso. Um fim e um princípio artificialmente agendados não são o mesmo de que uma morte e uma ressurreição politicamente convenientes. II. Na pele de Secretária de Estado, prometeu, em novembro de 2013, alternativas a um eventual falhanço da diplomacia no caso da saída dos norte-americanos da Base das Lajes - “Até ao fim há esperança. Se as nossas esperanças forem inviabilizadas já está em marcha um conjunto de iniciativas de mitigação dos impactos negativos da redução militar que o Governo dos EUA pretende promover na Base das Lajes”, afirmava então à imprensa. Passaram quase dois anos e, em pré-campanha eleitoral, a Dra. Berta Cabral, na qualidade de cabeça-de-lista do PSD Açores, foi à Terceira prometer que irá “promover o incremento da utilização civil da Base das Lajes, porque isso é determinante para captar as low-cost”. No entretanto, nada. Nem “conjunto de iniciativas de mitigação”, nem “incremento da utilização civil”. Dois anos como parte do Governo que decide, com influência específica no setor da Defesa, e nada. Para que o leitor não diga que é mania da perseguição e despeito partidário, eu vou dar mais um exemplo igualmente elucidativo – e depois sim, poderá o meu caro leitor dizer o que lhe apetecer das minhas motivações. Recentemente, o Parlamento Regional deu parecer negativo a um projeto de diploma do Governo da República sobre a classificação e a gestão de áreas marinhas protegidas por não respeitar o Parque Marinho e o Regime Jurídico Regional da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. Antes disso, o Governo Regional tinha chamado a atenção para as investidas do poder central em termos de tutela exclusiva do mar dos Açores e dos seus recursos minerais. O que disse a Senhora Secretária de Estado da Defesa? Que eu saiba, nada. E o que diz a mesma senhora, mas agora enquanto primeira candidata do PSD Açores à Assembleia da República? “Defenderemos que, no âmbito do alargamento da plataforma continental, se instale no Faial um Centro Internacional de Investigação do Mar, em colaboração com a comunidade académica e empresarial”, afirmou Berta Cabral, na apresentação da sua lista na Horta, que é como quem diz nada mas com estilo. III. Ou seja, é possível acreditar que alguém que teve poder de influência e participou ativamente na execução de políticas que foram nocivas para a Região estará em condições de ressuscitar como paladina dos interesses dos Açores contra a República cujas conveniências representou nos últimos dois anos? Eu, que sou adversário político, não acredito, mas atrevo-me a supor que o leitor também não encontrará razões para ser crédulo. Até porque se lembra, tão bem como eu, do fatídico dia da campanha eleitoral para as Regionais de 2012 em que a então candidata à Presidência do Governo Regional, Dra. Berta Cabral, afirmou, antecipando a derrota, “Alguém me acha parecida com o Dr. Passos Coelho?”. Na altura, a questão era demarcar-se de um governação nacional insensível, austera e particularmente adversa para os Açores. Agora também. A diferença é que entretanto a Dra. Berta Cabral foi igualzinha à Secretária de Estado Adjunta e da Defesa Nacional de Passos Coelho.