Opinião

Tragédia Grega

De uma forma inesperada para a maior parte dos analistas políticos existe mesmo a possibilidade da Grécia sair da Zona Euro. Bem sei que alguns (ir)responsáveis políticos – idiotas úteis numa dramatização pretendida – falavam na necessidade de fazer da Grécia uma vacina para toda a Europa que ousasse pensar em seguir um caminho diferente em termos de políticas económicas. Mas sinceramente, sempre achei – e ainda tenho alguma esperança! - que fazia parte de uma verborreia controlada com “trela larga”, de ambas as partes, decorrente de um enorme bluff necessário para obter o melhor resultado nas negociações. Bem percebo algumas mentes, como as do PSD e as do CDS, que gostam de resumir isto tudo a uma luta entre quem empresta e quem não quer pagar. Mas isto não se trata de um empréstimo à habitação ou a falta de pagamento de um crédito para a compra de um eletrodoméstico. Eles sabem que está muito mais em causa do que apenas isto, mas a proximidade eleitoral turva-lhes o raciocínio. O “Grexit” (a saída da Grécia da moeda única) é uma autêntica irresponsabilidade com consequências económicas e políticas imensuráveis para toda a Europa e até, possivelmente, para a economia mundial. Sim! Uma pequena economia que vale 2% de toda a riqueza produzida Europa tem este poder. A saída da Grécia iria estraçalhar o que resta da sua economia interna. O Estado grego teria que criar uma unidade monetária interna nova que permitisse efetuar pagamentos. Só que esta nova moeda no curto/médio prazo não iria valer muito mais do que o valor do papel onde estava impressa, não servindo, portanto, como meio de pagamento para a sua dívida externa que está em euros – que seria renegada!- muito menos para pagar produtos importados, fundamentais para a sobrevivência de uma economia com uma balança comercial deficitária. Neste cenário, a inflação grega iria disparar, o preço de muitos bens seriam administrativamente controlados e, o desemprego atingiria níveis insuportáveis para a estabilidade democrática do país. Ora a Grécia é o país da Europa que recebe mais migrantes do sul de África, que circulam livremente pelo espaço Schengen, que está num enorme “enclave”, entre a Europa, a zona instável dos Balcãs e a Turquia. Facilmente se percebe a preocupação americana, pois um enfraquecimento do Estado neste país, é colocá-lo à mercê de outros países e interesses menos escrupulosos, é destapar um enorme “tampão” de problemas que podem rapidamente chegar ao centro da Europa e desestabilizar a economia mundial . A saída da Zona Euro significa, também, para além de um enorme prejuízo financeiro para os estados membros, o fim de um projeto comum fundador da União Europeia e Monetária, de que os países mais ricos tem a obrigação de ajudar os países menos desenvolvidos, ao abrigo do princípio da solidariedade e da coesão social. Significa, que passamos a fazer parte de um projeto que serve alguns em detrimento de todos, pois há uns que valem mais do que outros. Significa, que fazemos parte de uma entidade supranacional, não eleita, que julga e castiga os seus estados membros e os seus respetivos povos. Significa que as nossas dificuldades enquanto país só serão solidariamente aceitáveis na justa medida que não afete os rendimentos nem a economia dos mais ricos. Ou seja, passamos a funcionar como uma família de irmãos que aceita matar um dos seus membros à fome, para que o irmão mais alto não perca a sua boa forma física. Parece mau de mais para ser real, mas é verdade! Tivemos de tudo: líderes europeus a interferirem na política interna grega; o governo grego a ziguezaguear nas suas propostas e até as apresentar em folhas manuscritas de hotel; o ministro das finanças alemão a fazer piadas onde sugeria trocar com os EUA a Grécia, pelo Estado americano falido de Porto Rico. Enquanto tudo isso acontecia de uma forma despudorada, há um país em risco de explosão política e social e o projeto europeu à beira do seu fim... Uma autêntica tragédia grega.