Opinião

O poder local e o local do poder

Emitir opinião mais do que um ponto de vista é colocar a vista num ponto. Esta semana vimos mais uma vez a autarquia de Ponta Delgada aproximar-se da Universidade dos Açores de um modo que já é habitual. Palavras vãs, algum gongorismo inconsequente e uma postura para constar nas “fitas do tempo” mais do que para exprimir qualquer contributo válido à Universidade dos Açores. Até parece que esta instituição de ensino superior não está fortemente sediada no maior concelho dos Açores. Ponta Delgada ganha prestígio e qualificação global, para além de movimentação económica com a população de estudantes do superior e das aquisições de bens e serviços. O financiamento do ensino superior cabe ao governo da república que nos últimos anos tem desinvestido na ciência, na cultura e na educação como fazem os países atrasados, em épocas de crise. O governo regional já há muitos anos que compreendendo o valor estratégico da Universidade dos Açores investe nos recursos humanos da universidade, nas infraestruturas e nos centros de investigação. Para que se entenda este investimento bastaria recordar os mais de 55 milhões de euros que o governo dos Açores alocou à Universidade dos Açores entre os anos 2006 e 2014. Numa região ultraperiférica que reivindica justamente diferenciação pelos constrangimentos e dificuldades das distâncias e deseconomias, também a Universidade dos Açores deveria ter um instrumento financeiro idêntico à Lei de Finanças Regionais que lhe permitisse cumprir a tripolaridade sem sobressaltos ou recuos. Mais do que discursos tautológicos de alguns autarcas sobre o papel e importância da Universidade, seria mais útil e eficaz algum contributo financeiro do poder local, em primeiro lugar, das autarquias onde se estabelece essa tripolaridade. Assim, podiam materializar eloquências vazias de conteúdo, independentemente da gravitas e do melodramatismo ensaiados. Continuamos a pensar que bolsas de estudo para estudantes com dificuldades financeiras deveriam constar dos orçamentos camarários. Só assim ganhariam legitimidade as incursões protocolares na Universidade dos Açores que cheiram sempre a posturas cheias de nada. Não basta pois anunciar capitais da cultura para o ano 2027, curiosamente, para um tempo em que a reconfiguração política da maior autarquia dos Açores será obrigatoriamente diferente!! Até lá, o que seria verdadeiramente importante devia traduzir-se em mais investimento autárquico na Universidade dos Açores que já contribui com educação e conhecimento para densificar a qualificação dos munícipes açorianos. O poder local compreenderia melhor o local do poder do conhecimento.