Opinião

Luvas de pelica

A dois dias delas não há como não falar das eleições. Sobre elas está tudo dito e, no entanto, o resultado ainda é uma incógnita. A percentagem de indecisos é a única certeza que temos hoje. Mas nesta amálgama difusa de pessoas há muita variedade. Que as sondagens não dizem, porque ignoram provavelmente. Como podem as sondagens saber o que os eleitores ainda não sabem? Este tipo de estudos de opinião vai ter que procurar conhecer com rigor os indecisos. Nestes cabem os que não decidiram ainda se vão votar, que são muito diferentes dos que vão de certeza, só que não sabem é em quem. E entre estes há os que sabem de certeza quem não querem eleger, mas não sabem ainda a quem confiar o seu voto. Nesta franja todos tentam pescar. O PS o voto útil dos que protestam contra o atual governo, a PàF aqueles a quem acena com a bandeirinha do regresso à instabilidade. No domingo, no espaço esconso da cabine de voto, imaginamos a indecisão da senhora de meia-idade que, com a mão trémula, hesita em fazer a cruz. Sabe o tamanho desta cruz para si. Na fatia do ordenado que perdeu, na pensão retirada aos pais, na sobretaxa de IRS, sente ainda o PàF, PàF, PàF dos golpes infligidos pela coligação. Hesita mesmo assim. A confiança, depois de partida, não tem restauro. Mas também não quer regressar ao passado. O problema é que não se pode regressar a um lugar de onde nunca se saiu. Dizem os indicadores mais recentes. Entretanto perdemos só num ano 110.000 pessoas. Os ricos ficaram mais ricos, e foram criados novos pobres. Há medos que devemos combater. Quando não sucumbimos. A maioria que todos querem é tratada com luvas de pelica. Do voto dos indecisos e do seu imprevisível comportamento depende o resultado destas eleições. Não seria a primeira vez que o resultado eleitoral se afastava da projeção. Isto que dizer que as sondagens erram? Não, quer dizer que as sondagens podem ter o efeito de condicionar o desfecho eleitoral.